A GUERRILHA ISLÂMICA DETERMINA A CISÃO DOS POVOS NO SÉCULO XXI

Ensaio sobre a situação da Síria e do Iraque como expressão da luta intercultural

Por António Justo
No mundo contemporâneo, a violência de motivação religiosa parte praticamente do Islão. Isto fomenta a incompreensão do islão e muitos muçulmanos moderados de boa-fé sentem-se colocados no pelourinho. As forças radicais e escuras estão interessadas em fomentar motivos de incompreensão porque só assim se encontram no seu Mileu e justificar o seu agir irracional.

Tornar o Islão compatível com outras culturas e religiões

Torna-se urgente uma reforma do islão a partir do seu interior que possibilite a passagem da sociedade patriarcal e medieval para a sociedade moderna onde o centro da realidade passa a acontecer na pessoa e a expressão política se realiza numa forma de democracia (comunidade) que possibilite a liberdade do indivíduo, de modo a que este faça o que quer, desde que não incomode ninguém.

A confusão, que se observa a nível de teoria e no âmbito da acção da sociedade islâmica, deve-se também à falta de separação nítida no Corão e nos Ditos do profeta entre religião e violência, entre regra e extremismo, o que impossibilita distinguir entre quem obedece à norma religiosa e quem não. Não se tratará de rejeitar o islão, como fazem alguns intelectuais muçulmanos, mas de o reformar com uma interpretação adaptada aos nossos tempos (reconhecendo muito embora a dificuldade dado não haver sincronização do tempo em relação às culturas). Tratar-se-ia de encontrar uma definição e uma prática islâmica aberta e compatível com outras religiões e culturas, com outros valores, outras constituições de estados e com a modernidade na aplicação dos direitos humanos. Só uma atitude tolerante e integrativa, respeitadora das religiões e do estado de direito, pode servir os muçulmanos democráticos e livres bem como as outras culturas. O islão tem de reconhecer a realidade natural da variedade e as leis da evolução, doutro modo, ao fechar-se numa visão patriarcal, apressa a sua derrocada embora englobe muita riqueza artística no mosaico das culturas.

O Terror jihadista islâmico é a Luta contra a própria Queda

Como se observa do mundo árabe ou do mundo subjugado ao islão, onde não há ditadura ou regime autoritário, abundam os movimentos extremistas que impedem a estabilidade interna. Por toda a parte, onde se encontre um vazio regulamentar político, logo a frustração é compensada religiosamente, através da violência e de mercenários cegos ao serviço duma cultura do medo.

Toda a ideologia política ou religiosa, que considere o seu ponto de vista como a única via correcta de vida, desconhece a relação entre percepção (conceito) e realidade, vendo-se condenada a viver da guerrilha e a fracassar, dado o desejo de liberdade inato ao Homem não poder ser ininterruptamente oprimido, por um regime ou uma cultura, e, além do mais, num mundo chamado a transformar-se numa aldeia de vizinhos. Também Maomé dizia: “o que não serve o homem vai abaixo como uma onda no oceano”. Os tempos mudaram e com eles muda o Homem e as circunstâncias, tudo é processo; quem não quer ficar sob as rodas da História, tem que verificar o que então “servia” o homem e o que hoje já não serve o Homem. Recorrer sistematicamente à violência para resolver problemas é desumano e destrutivo.

O busílis muçulmano está no facto de só admitir, na sua sociedade, a curto ou a longo prazo, o falar do Deus registado no Corão, ficado assim demasiado timbrado pelo patriarcalismo do Antigo Testamento e das tribos árabes sem perspectiva para uma sociedade aberta dado não ter integrado no islão as novas culturas e geografias onde se espalhou (isto vem do facto de considerar a revelação divina como enlivração empedernida – Deus tornado livro – não integrando nela a revelação divina que se dá através da História e da natureza, como fazem os cristãos). Consequentemente, têm de viver no gueto ou transformar o mundo no seu gueto; enquanto se encontram em minoria vivem no gueto apresentando-se ad extra como conciliadores; mas, uma vez alcançada maior presença no meio, as forças extremistas impõem-se aos “outros”, aos diferentes, (este processo também se observa na mudança de atitude de Maomé quando passou de Meca para Medina e se pode observar na mudança de opinião de Deus nas Suras – tolerantes do Corão escritas em Meca e nas escritas em Medina – Suras intolerantes) de maneira a torna-los numa monocultura por imposição. O exemplo de Maomé e a doutrina hegemónica que suporta o islão também não deixa viver em paz as confissões islâmicas sunitas (cerca de 80% dos muçulmanos no mundo) nem as xiitas (cerca de 20%) e do mesmo modo os correspondentes subgrupos alevitas (o mais liberal), o wahhabismo, o sufismo, os salafitas, etc, que disputam o poder entre si em nome de Alá.

A “Casa da Submissão” a Alá e a “Casa da Guerra”

A falta de honestidade ética, identifica o islão como religião da paz mas não esclarece que entende por paz a sua paz muçulmana (a paz da Umma) e mesmo assim guerreiam-se uns aos outros. O Evangelho já avisava: “Quem vive pela espada, pela espada morrerá” (Mt 26:52). Naturalmente a esmagadora parte dos muçulmanos é inocente e não conhece sequer a filosofia ambivalente do Corão ou dos que o aplicam ou utilizam.

Ao contrário do Ocidente que acentua o ideário da pluralidade de nações como factores de identificação e de identidade (sociedade aberta), a civilização árabe tende, duma maneira geral, a identificar nação (a nação árabe ou muçulmana) com a religião, o que cria problemas com as culturas que incorpora (como sociedade fechada). Na falta de uma consciência nacional tão diferenciada acentua a consciência da Umma (a comunidade dos crentes muçulmanos) que os distingue doutras pessoas: ‘a casa do islão’ = “Dar ul-Islam” em contraposição com a ‘casa da guerra’ = “Dar ul-Harb”). Divididos entre o desejo de autodeterminação (individualidade) e comunidade abdicam da individualidade que colocam incondicionalmente ao serviço de um grupo (ex. os mártires assassinos, semelhantes aos Kamikazes – “vento divino” japoneses), que tenta democratizar a violência. A Umma tem a vantagem de dar consciência a uma massa que, doutro modo, andaria à deriva e apresenta-se como contrapeso à (comunidade) sociedade ocidental que, talvez peque pelo outro extremo e se esvai no indivíduo. Líderes muçulmanos parecem apostar num deus guerreiro e na religião como tecto cultural, enquanto líderes ocidentais parecem apostar nas armas, na economia e na democracia como tecto cultural.

A fortaleza e a fraqueza do mundo islâmico parecem vir-lhe do aspecto confuso que não permite localizar concretamente os conflitos.

Também nos países de imigração de muçulmanos, estes sobressaem pela reivindicação dos próprios direitos em contraposição aos da sociedade acolhedora. Procuram organizar uma justiça paralela ou alcançar nos sistemas judiciais dos países de imigração, contrapartidas de cunho religioso conseguindo penas mais leves para delitos provindos de casamentos forçados ou de violência do homem para com a mulher (aqui o direito penal entra em conflito com a Constituição que defende a integridade corporal e a liberdade individual e a lei islâmica passa sobrepor-se à lei do Estado; tal comportamento dificulta a integração, encoraja o gueto e até a conversão para homens que queiram ter mais direitos em relação à mulher). Exigem tribunais próprios para arbitragem de litígios entre eles estabilizando assim a vida social paralela de gueto e uma justiça paralela. O problema não está nas exigências nem na diferenciação mas no facto de se criarem espaços vazios do direito em que se desfavorece o direito individual para se favorecer o direito cultural religioso.

Muitos organizam manifestações públicas contra Israel e contra a proibição do lenço mas não protestam publicamente contra os correligionários que usam a sua religião para fins terroristas (sentem-se depressa numa situação de vítimas e de coitadinhos, porque ‘de-finem’ a sua identidade pela religião e em contraposição aos que vive fora dos seus muros). Isto é compreensível a nível individual e psicologicamente mas a nível social torna-se conflituoso.

Na Alemanha, Wupertal, grupos Salafistas não se comportam em conformidade com a lei e já se manifestam como “Scharia Police” para controlarem lugares públicos frequentados por muçulmanos.

Os salafistas, um movimento extremista financiado especialmente pela Arábia Saudita, e espalhado por todo o mundo, tem uma mundivisão simples com um sistema de pensar só a preto e branco. Têm aceitação entre os povos carentes porque também prestam auxílio com projectos caritativos em nichos que os Estados não cobrem. Na Europa, segundo uma investigação, dirigem-se a grupos marginais e com pouca formação cultural, onde recrutam os seus seguidores que “com prazer são enviados para ataques suicidas, porque não são bons para mais nada”.

Torna-se anacrónico que, em países desenvolvidos, a polícia estatal, tenha medo de entrar em certos bairros. O vigilantismo familiar e grupal tem tradição na “vergonha da honra familiar” que se sente ultrajada por costumes diferentes dos seus. Na Alemanha ainda não houve ataques terroristas concretizados porque o país tem um sistema de organização muito efectivo que trabalha silenciosamente e de modo preventivo.

Por isso o Governo alemão determinou a 12.09.2014 que, a partir de agora, ficam proibidos os símbolos da milícia terrorista IS, como seja, a Bandeira, qualquer participação na IS, propaganda na Internet ou nas manifestações, recrutamento de combatentes, trazer símbolos ou recolher ofertas. Na Alemanha os salafistas são o grupo extremista talvez mais organizado, dedicando-se ao recrutamento e autoafirmação saindo do seu meio jihadistas que lutam especialmente no Médio Oriente.

Na Europa a economia e a política têm agido irresponsavelmente no que toca à defesa do povo e do cidadão pelo facto de não se preocupar com a comunidade; reduz o ser humano a uma força de trabalho em conivência com o sistema árabe que o reduz a força religiosa. Grande parte do povo, nas grandes cidades já tem medo de se movimentar em certos bairros. Com a cumplicidade política e dos governantes, que olham de longe o problema, sem se preocuparem com estratégias de reciprocidade, criam-se os pressupostos para a organização de bandos como acontece em favelas. A situação precária de tais grupos torna-se mais complicada ainda porque além dos muros da pobreza tem o muro da religião, o que dificulta uma solidariedade isenta.

O Caos da Situação e o Paradoxo da “Guerra santa” das Armas e do Sexo

No Iraque, tal como na Síria, há um enredo de interesses disputados por sunitas, xiitas, curdos, americanos, russos, turcos, Kuwait, Catar, irão e Arábia Saudita, que se podem resumir como guerra intercultural e económica. “O terror islâmico é executado na linha de distinção entre sunitas e xiitas”, constata Gilles Kepel; esta linha, à maneira das cidades muralhadas medievais, assenta na mundivisão de demarcação mural, entre o nós e os outros e na estratégia de autoafirmação pela contraposição em relação aos de fora.

O movimento terrorista IS (Estado Islâmico ou Califado), presente na Síria, é contra os xiitas iranianos que apoiam o presidente alevita Bashar al-Assad, (alevitas são 10% da população síria). A guerra civil já provocou 160.000 vítimas, encontrando-se 9 milhões de sírios em fuga.

A milícia IS intervém agora no Iraque com 17.000 combatentes e conta com o apoio activo das tribos sunitas. O movimento IS e os salafistas, em geral comportam-se como os seus antepassados da Idade Média. Pretendem instalar um reino de terror religioso (Estado Islâmico) numa zona de muito petróleo que lhes conferiria grande poder económico e estratégico em relação aos xiitas do Irão e a Israel. Querem voltar aos princípios do Islão não suportando a seu lado crentes doutra fé nem tão-pouco correligionários muçulmanos moderados. Movidos pela energia criminosa dos talibans do Afeganistão pretendem fazer do Iraque e da Síria um novo Afeganistão. No Iraque, antiga mesopotâmia, babilónia, repete-se o drama dos tempos bíblicos.

Quando o movimento IS actuava só na Síria o fogo cruzado dos meios de comunicação ocidental apelava ingenuamente à necessidade de apoio destes bárbaros assassinos que serviam os interesses da dupla moral ocidental. Agora, no Iraque junta-se a causa das refinarias e dos poços de petróleo!…

A solidariedade muçulmana internacional consegue mobilizar milícias desestabilizadoras de governos e regiões. Provêem especialmente da Arábia Saudita, da Tunísia e mantêm na Síria 4.000 prisioneiros entre os quais 20 americanos e europeus. Só da Alemanha já se encontram 400 combatentes islâmicos no tereno.

A utilização da religião e da mulher para fins patriarcalistas

Ultimamente, pregadores jihadistas (defensores da guerra santa) conseguiram mobilizar mulheres tunesinas em serviço da jihad sexual na Síria; isto é, estas jovens/mulheres a partir dos 13 anos disponibilizam o seu corpo aos guerrilheiros na Síria motivando os guerreiros de Alá e ganhando o paraíso com a sua contribuição. A Tunísia tornou público o Jihad sexual na Síria revelando que as voluntárias chegam a ter “relações sexuais com 20, 30… até 100 jihadistas”, como confirma o ministro do Interior da Tunísia, Lofti Ben Jedu, ao reconhecer o retorno de mulheres grávidas. Nas Palavras do Profeta, são prometidas, como prémio a cada mártir do islão, 72 virgens acompanhadas de 70 amas o que corresponde a 5.040 mulheres por mártir. Também por isso não faltam os jhiadistas prontos a sacrificar-se pela religião. Entretanto também há mulheres jhiadistas; qual será o prémio receberão delas?)

A “guerra santa do sexo” (jihad al nikah) é considerada legítima por líderes salafistas que pretendem voltar às origens; as interessadas contornam a prostituição na medida em que, ad hoc, se declaram casadas por um dia com quem partilham os serviços sexuais. Golda Meir queixava-se referindo-se ao terrorismo e aos pais que o fomentam: “Só haverá paz nesta região, quando os pais amarem mais os filhos do que odeiam os seus inimigos”.

Também os nazis para expansão da raça ariana criaram a instituição “fonte da vida” como programa destinado a promover a higiene da raça onde mulheres gestavam anonimamente um filho para Hitler; contribuíam, deste modo, para criar uma “raça líder racialmente pura”. Esta estratégia pretendia também criar mais combatentes e aproveitar também a mulher para o serviço à guerra e à ideologia.

A utilização da religião e da mulher para fins patriarcalistas e imperialistas é comum no fascismo e defendida até por políticos moderados como Recep Tayyip Erdogan, actual presidente da Turquia. Quando ainda primeiro-ministro apelou aos 3 milhões de turcos residentes na Alemanha, num discurso em Colónia (24.05.2014): “Vós não deveis assumir nenhum compromisso em questões do vosso idioma, da vossa religião e da vossa cultura”, recomendando também que reivindicassem postos na política e na administração. A 22 de setembro de 2004 o periódico “Die Welt” cita Erdogan que, quer que o seu país entre na EU e numa campanha eleitoral, a 6.10.1997 confessou: “A democracia é apenas o comboio, ao qual subimos até alcançarmos o objectivo. As mesquitas são os nossos quartéis, os minaretes as nossas baionetas, as cúpulas os capacetes e os crentes os nossos soldados”. Se parceiros modernizadores falam assim que se pode esperar dos tribunos do povo?

Religião ainda continua a ser para muitos uma palavra mágica que desobriga a razão e paralisa até o cérebro de juristas e de pessoas de boa vontade.

A Fronteira da Discórdia

Dá que pensar o facto de não ser a UNO nem a Liga Árabe a encarar o problema com responsabilidade; todos esperam pela intervenção dos USA e pelo apoio armado do ocidente. Não é lógico serem os USA a intervir no Iraque, quando a missão da paz deveria ser uma tarefa de todas as nações representadas na ONU. O problema é que os estados islâmicos são incapazes, por si sós de conter o terrorismo e o mundo ocidental livre também não resolve o problema lançando algumas bombas no Iraque ou na Síria.

Na guerra civil da Síria e nos campos de luta dos “guerreiros de Alá”, o argumento moral não tem aplicação, dado os grupos adversários usarem de força extrema e brutal, proveniente tanto dos fundamentalistas como do governo. A Síria era um país muito culto e multicultural e, como tal, um argueiro no olho dos fanáticos sunitas e xiitas.

Uma cultura que legitime a violência e a exploração sistemática só poderá manter a ordem social mediante governos autoritários ou ditadores. Uma estratégia de paz, a longo prazo, deveria passar pelo apoio aos muçulmanos moderados. Torna-se urgente criar uma geração nova que lide de maneira madura com a religião.

A fronteira da discórdia encontra-se entre os possuidores da verdade e os da liberdade, entre a energia religiosa e a energia económica, entre uma sociedade islâmica que se encontra na Idade Média e o modernismo ocidental. O mundo muçulmano encontra-se em luta contra duas frontes: o mundo moderno e a luta inter-religiosa entre sunitas e xiitas, como acontecia no século XVI entre protestantes e católicos, entre o norte e o sul. Têm como aliados o petróleo e a apatia cultural e religiosa do Ocidente que vive da ilusão de que o jihadismo se deixa abafar com o dinheiro. O preço que o Ocidente pagará pelo seu oportunismo do momento e pela consequente emigração, em consequência da guerra, será a instabilidade social, a longo prazo, na Europa.

O problema de muitos estados islâmicos, como no caso da Arábia Saudita, está no facto da sua estabilidade política (também contra as rivalidade correligionárias, entre sociedade árabe e persa) depender da aliança com o grande aliado USA e, por outro lado, não o suportar no âmbito cultural; concretamente por ser uma civilização dividida que não suporta um denominador comum.

A táctica da guerrilha tem sido uma constante islâmica no seu processo de expansão e de colonização interna (conflito internos) numa permanente estratégia de desestabilização. A sua fronte contra o Ocidente e as lutas entre xiitas-sunitas, árabes-Irão, Turquia-Curdos (Curdistão) enfraquece-os, mas, por outro lado, são encorajados pela tradição e tática do profeta Maomé que queria construir um Estado islâmico sobre as ruinas de outro (Meca) numa guerra eterna contra os infiéis (incrédulos).

Na colonização interna da Europa a luta dava-se entre adversários pequenos e grandes mais ou menos iguais que, mais tarde, teve como resultado a formação de países estáveis; hoje a colonização interna nos países muçulmanos torna-se impossível e deste modo também se impede a formação de sociedades equilibradas porque os mais fortes não conseguem apaziguar a rebeldia de descontentes, por não terem força interna suficiente e se encontrarem condicionados à acção das potências externas que ora apoiam uns ora apoiam outros. Assim na formação do Ocidente houve guerras que apesar de tudo conduziram à paz e na civilização árabe mantem-se a contínua guerrilha. (Também a existência de Israel é uma permanente afronta à hegemonia muçulmana e a colaboração de governos muçulmanos moderados com o Ocidente legitima a subversão que vive da ambivalência entre o objectivo hegemónico final e as circunstâncias políticas).

A guerrilha é financiada pela CIA, Arábia Saudita, Qatar, Kuwait, etc. Os cavaleiros suicidas de Maomé sentem-se obrigados à antropologia e sociologia árabe que se expressa no islão que define o ser humano unicamente pela pertença ao grupo religioso e não dá lugar à separação entre poder temporal e espiritual. Ao reconhecer apenas o grupo, exclui antropologicamente qualquer desenvolvimento emancipatório preocupado com o bem do indivíduo e exclui o desenvolvimento sociológico pelo facto de apenas aceitar uma sociologia de caracter islâmico que se impõe às outras.

Ataturk tentou modernizar o islão da Turquia mediante a construção de uma sociedade civil/secular defendida pelo poder militar; apesar da secularização da Turquia, na realidade, no século XX, os cristãos passaram de 25% para 0,2% da população turca, continuando ainda a ser discriminados. Se isto acontece hoje na moderna Turquia de Erdogan, que se pode esperar do islamismo doutras regiões muçulmanas que olham de olhos vesgos para a sociedade turca por a considerarem demasiado ocidental e como tal já não ortodoxa? Só o acordar para um movimento ecuménico das religiões em que se passe do combate dos direitos culturais para os direitos naturais no convívio de uma ecologia universal poderá evitar um confronto bárbaro das culturas.

O Islão vive dum paradoxo que lhe dá perenidade

A discussão em torno do islão continua a ser falsa e hipócrita da parte islâmica e da parte ocidental, não lhe dando assim a oportunidade de saírem da Idade Média. Como a consciência individual é absorvida pela de grupo, na sociedade islâmica não se processa a reforma e contra reforma, nem o iluminismo como aconteceu na sociedade cristã; dão-se insurreições religiosas sob a capa do conservadorismo mas apenas motivadas por hegemonia e rivalidades de poderes. A sociedade muçulmana prefere viver no e do paradoxo (afirmação-negação) sem integrar no seu pensamento o crivo da dúvida; a dúvida foi o motor de desenvolvimento da civilização judaico-cristã (afirmação-negação-dúvida), o que contrasta com outras culturas. O mundo árabe, ao reduzir o discurso à dinâmica verdade-falso, simplifica a vida, tornando-se atractiva para pessoas de pensamento indiferenciado, deixando-a nas mãos do mais forte, como acontece na relação homem-mulher. Como na História a razão fica do lado do mais forte, sentem-se sempre com razão ao empregar a força como meio de atingir objectivos. Este sistema favorece assim o género masculino e as elites que se afirmam através do poder, o que leva uns e outros a sentirem-se reconhecidos perante um islão legitimador da força e como tal com perspectivas de perenidade porque se revigora externamente através de caudilhos emergentes, de mentalidade adolescente. O Ocidente, também ele eivado de poder, mas um pouco inseguro devido à idade e à filosofia cristã, evita uma discussão séria com as sociedades islâmicas porque mais que no desenvolvimento do islão e da paz no mundo, está oportunisticamente interessado no seu petróleo e riquezas. Menospreza porém a presença muçulmana nas grandes empresas através de acções e da imigração de cultura árabe para as suas cidades. Como o interesse do ocidente é meramente económico deixa os imigrados em estado carente, o que os fortalece nas suas tendências de se fecharem em guetos. A falta da plataforma dos direitos humanos leva-o a desinteressar-se por uma relação social de reciprocidade e complementaridade: um exemplo da aceitação da afirmação paradoxal islâmica pelo ocidente revela-se no facto de aceitar o financiamento de mesquitas pela Arábia Saudita nos seus países quando nela não existe liberdade religiosa; o mesmo acontece em relação à Turquia que impede o exercício religioso não islâmico querendo até transformar o templo cristão Agia Sofia numa mesquita. A realidade parece acontecer por trás dos véus da teoria e da prática.

“O Islão, funciona como uma máquina do tempo reacionário”

A fundação de um califado, através da guerra santa, encontra justificação no Corão e dirige-se contra as aspirações seculares de fundação de Estados civis sem regulamentação religiosa à maneira dos estados ocidentais.
Toda a insurreição social, onde se encontra uma certa percentagem de prosélitos maometanos, é organizada em nome do islão (Corão, ditos do profeta e sharia). A emancipação organiza-se normalmente em termos políticos/religiosos e não em termos de indivíduos nem de direitos humanos. A Irmandade islâmica (organização para o „regresso ao islão”), Al Qaida (“a base”, organização terrorista mais conhecida), IS (ou ISIS é uma suborganizarão de Al Qaida no Iraque e na Síria), salafistas actuais (fundamentalismo interpretativo do Corão como o wahhabismo da Arábia Saudita também em marcha na Europa), Hamas (extremistas contra o poder secular, apoiados pelo Irão que é xiita, pretende a aniquilação de Israel), Hezbollah (“partido de Deus” movimento armado xiita no Líbano – é um estado no estado), e várias variantes com expressão própria em acção na África, na Rússia, na China e na Ásia em geral.

África refém de extremismos

A instabilidade política e social da África torna-se fácil presa para grupos islamitas como o Boko Haram na Nigéria. Contra a educação secular recorre ao genocídio destruindo um ecumenismo de coexistência pacífica que a partir da revolução islâmica iraniana começou a ser sistematicamente destruído através do terrorismo intercultural e sem fronteiras. A Nigéria, país rico em minerais, com 180 milhões de habitantes, com 250 grupos étnicos (com tendência a afirmação de direitos tribais ou religiosos), com quinhentas línguas e sem história comum é o exemplo acabado de uma África mosaico que, a partir da conferência de Berlim, foi obrigada a seguir padrões e fronteiras marcadas à régua e chamada a seguir os modelo hegemonias de história ocidental e muçulmana. Consequentemente por toda a parte se encontram ruinas sobre as quais, surgem racismos do desespero e de complexos.

O grupo jihadista sunita “Boko Haram” (=”livros são pecado”, “a educação ocidental proibida“, „educação moderna é um pecado”), empenha – se (=jihad) no sentido da tradição de Maomé e da Guerra santa com atentados à bomba e com a escravatura. O seu chefe Abubakar Shekau apela: “matai, matai; esta é uma guerra santa contra os cristãos”; entretanto já matou mais de 5.000 pessoas. Tendo em conta a sua visão de sociedade torna-se natural o rapto das 287 meninas diplomadas do ensino médio, para as vender. O movimento “Boko Haram” tem ligação com o Al Qaida e com a milícia Al-Schabaab da Somália.

O conteúdo dos conflitos actuais assenta no desfasamento histórico beneficiador do ocidente e na religião islâmica que, pela sua simplicidade, se torna atractiva para as massas e produz líderes que tiram do caos imensa vitalidade. Por outro lado a massa pobre não tem nada a perder e a luta torna-se numa oportunidade de que esperam tirar algum proveito.

Os grupos jihadistas são defensores da teocracia contra a democracia e contra tudo o que não seja islâmico. O ocidente tira conclusões enganosas, distraído por uma lógica democrática interesseira que desconhece a filosofia e a coerência profunda islâmica (terrorismo santo ancorado na fantasia do povo e na tradição) distraída pelos conflitos interinos dos diversos grupos e pela desculpa do islamismo político pretendendo ignorar que o Islão é sempre político e que os cavaleiros de Maomé se encontram já desde a sua fundação numa tradição de victória sobre impérios, Sassânidas, Império Bizantino, União soviética no Afeganistão, 11 de Setembro que levou Busch a favorecer os xiitas do Iraque para castigar a Arábia saudita de confissão sunita (fornecedora dos terroristas) e a intervir no Iraque para assegurar o seu petróleo ao ocidente. Nesta lógica os inimigos de hoje são os amigos de amanhã e vice-versa. Os USA terão de deixar de fomentar uma política de desestabilização das forças muçulmanas entre elas. Uma aliança contra o Califado só pode ter solução com o comprometimento do Irão que sairia, naturalmente, mais forte do conflito e com exigências para continuar o seu programa atómico, que a Turquia sunita e a Arábia Saudita não quererão. É natural que o Irão tenha medo do IS e que a solução para o Iraque só seja possível com o apoio do Irão e com a avizinhação do ocidente e do Irão. Talvez então se possibilitasse o caminho do Irão para a Pérsia no sentido desta se tornar uma potência regional reconhecida!… Para isso o ocidente terá de acabar com o embargo contra o Irão (Nos últimos dois anos o Irão viu reduzidas as suas exportações de óleo de 118 para 56 bilhões, devido ao embargo). Então seria de esperar que acontecesse com o Irão o que aconteceu com a China. O demasiado compromisso do Ocidente com o sunismo turco e da arábia Saudita tem impedido o desenvolvimento das forças naturais que regularão o Médio Oriente. Agora que o Irão também se vê ameaçado seria uma oportunidade.

A Turquia é país de passagem do terrorismo sunita… A emissora al Dschasira é apoiada pela Turquia e Katar. Interessante verificar-se que agora também a Arábia Saudita se sente obrigada a apoiar agora o governo egípcio com 13 bilhões de dólares, na esperança do poder militar meter a irmandade islâmica na ordem porque ameaça desestabilizar os poderes estabelecidos e toda a região. Os xiitas continuam a queixar-se da arábia saudita apoiar o IS que confessa o salafismo da arábia saudita. A avalanche da violência é de tal ordem que até os países apoiantes do terrorismo começam a recear tornar-se vítimas dos seus aliados. Isto pode ajudar à formação mais alargada de países contra o terrorismo.

Atendendo à filosofia seguida por muçulmanos e ocidentais a intervenção que se revela como necessária no Iraque, se não envolver as potências da região terá o mesmo resultado da do Iraque de Sadam Hussein e do Afeganistão; contribuirá talvez para a divisão do Iraque e será mais um passo na formação do Curdistão (aspiração também ela justa). Já Theodore N. Vail dizia: “Dificuldades reais podem ser resolvidas; apenas as imaginárias são insuperáveis.”

Que Deus é este que não deixa viver em paz quem não siga o Corão?

Quando se pensa em religião pensa-se que não foram feitas para legitimar a guerra e como o Islão é uma religião deveria naturalmente tentar impedi-la. A vida dos fundadores tem imensa influência na vida dos crentes e da sociedade. O profeta Maomé caracteriza-se como guerreiro e fundador do estado árabe; teve o valor de dar união às tribos bárbaras e domar muitos dos costumes rudes da região. Com as implacáveis suras do Corão contra os “incrédulos” legitima a violência. Sura 9:5: “Matai os adoradores de ídolos, os Trinitários (os cristãos) onde quer que os encontrardes, apoderai-vos deles e espiai-os em cada emboscada “. Os muçulmanos extremistas servem-se da mesma fonte que os moderados para as suas acções na intenção de atingir o seu objectivo (Suras 8:38; 9:73; 5:33).

Os terroristas islâmicos atingem dois objectivos: a formação do Estado Islâmico radical (califado), e o fomento de comunidades muçulmanas no mundo através dos muçulmanos refugiados. É sintomático o facto de os refugiados da guerra do Iraque, da Síria e do Líbano se dirigirem para a Europa quando os Emirados ricos e a Arábia Saudita teriam maior obrigação de os receber. Naturalmente que a Europa, especialmente os países que enriquecem à custa das armas, que vendem naqueles países, têm também obrigação de os receber. O problema só surge com a formação de guetos em oposição à integração.

Islão é um “modo de vida” e significa “submissão (a Alá) “. Isto constitui o motivo dos terroristas para a fundação do Califado islâmico (IS). IS, movido por um deus guerreiro, luta por um império islâmico que vá do Irão ao Egipto. Muitos dos combatentes do IS são recrutados na Europa também entre convertidos, o que tornará a Europa cada vez mais frágil.

Frank A. Meyer in “religião totalitária” de Cicero N°.08 escreve: “A civilização moderna, denota, uma sociedade livre da cultura judaico-cristã. O Islão, funciona como uma máquina do tempo reacionária.” Já o imperador bizantino, Manuel II preocupado com a situação de então dizia: “Mostre-me o que Maomé trouxe de novo, e aí encontrará apenas coisas más e desumanas, tais como esta, em que prescreveu, espalhar a fé que pregava através da espada”. O islão, para poder receber o atributo de religião da paz tem de contradizer o que a História parece confirmar (religião da guerra). Os países islâmicos parecem tornar-se em alfobres de fanatismo, incapazes de passar da Idade Média, desde a humilhação da mulher até ao massacre de irmãos da fé e de outros crentes. Uma fé pacífica não poderia, nos tempos modernos, produzir tais botões, não podendo desculpar-se pelo facto de exercer o controlo total sobre a vida pessoal e civil. Os cristãos também tiveram guerras bárbaras entre si e contra outros mas com a pequena diferença que as não podiam fundamentar em nome da filosofia do Evangelho nem no exemplo de Jesus.

Toda a ideologia, religião ou instituição que se considere dona/senhora da verdade torna-se numa grande prisão da humanidade. Deus criou o homem para a liberdade e consequentemente para a autonomia, doutro modo tê-lo-ia criado perfeito. Um exemplo da submissão pode ver-se em estados autoritários, nos atentados suicidas, na burca ou chador. Quem se julgue na posse da verdade nega a liberdade e a realidade da natureza que se desenvolve pela diferenciação integral num processo de tentativa e experimentação. Uma religião que não permita o desenvolvimento secular torna-se num fascismo fomentador de déspotas religiosos sem respeito pelo outro. Os que se consideram senhores da verdade e “no reino da verdade” sentem-se na certeza negando a vida bem como a dúvida e a experiência que seriam os verdadeiros promotores do progresso; ignoram que a pessoa humana é viva e não reduzível a um conceito empedernido ou a uma definição.

Uma religião não pode colocar a violência a saldo; não pode reduzir a paz a um direito a ser determinado por alguns; não pode reconhecer nela o poder e a violência como meio de solucionar controvérsias. Os terroristas fundamentam o seu agir no Corão e os muçulmanos moderados aceitam-nos com o argumento de haver diferentes perspectivas e possíveis interpretações (paradoxo). Mesmo associações islâmicas moderadas quando se manifestam publicamente contra os assassínios do IS fazem-no misturando o protesto com algo contra o país onde se encontram, o que deixa espaço para a duplicidade. A ideologia islâmica encontra os seus multiplicadores em muitas mesquitas às sextas-feiras. Os intelectuais ocidentais que se ocupam da política também pecam por duplicidade e por empregar duas medidas: críticos contra o cristianismo e complacentes ou cúmplices quanto ao islão. Naturalmente, a esmagadora maioria dos muçulmanos é pacífica por natureza sem necessidade de fundamentos para a bondade nem para a maldade.

Geralmente situam-se entre o sentimento de humilhação e dominação mundial, uma característica comum aos fascismos que cultivam o ódio e o ressentimento. Precisam de vítimas e mártires na procura de inimigos internos (forças seculares ou outras religiões) e externos (o mundo da guerra). Deste modo só eles podem saber, quem são os assassinos certos e quem os falsos, dado o critério de valor e de juízo depender do lado do muro em que se aqueles se encontram. Os salafistas, que são contra a democracia e defendem a instalação de um estado de Alá (teocracia) e os acoites corporais e a sharia fazem livremente propaganda pelo seu plano, distribuindo o Corão gratuitamente nas ruas das cidades europeias. A tolerância dos fartos é cúmplice sendo também ela responsável pela intolerância que fomentam ao não dialogar a sério com os estrangeiros.

“O Corão é o livro mais forte que impede as pessoas de pensar… quem pensar de forma crítica sobre o Islão, põe a sua vida em perigo” demonstra o muçulmano Hamed Abbdel-Samad, em seus livros. O Corão só é tomado a sério para o que interessa, apesar de cada muçulmano trazer em cada ombro um anjo que anota tudo o que ele faz e um Deus que castiga sem ser questionado e não deixa viver em paz quem não segue o Corão. Que Deus é este que não deixa viver em paz quem não siga o Corão? Não foi o mesmo Deus que achou agrado em toda a criação? O problema não está em Deus mas sim numa doutrina que precisa de renovação e adaptação ao desenvolvimento da consciência individual esclarecida, reconhecendo que a natura consta dos mais variados biótopos e do mesmo modo a humanidade com os seus culturotopos. A vida do cidadão não pode ser condicionada ao horizonte da tenda nem da tribo, nem tão-pouco do império. O mundo árabe não pode viver a marcar passo, tendo também ele contribuído para o desenvolvimento da ciência; seria irracional continuar a viver num antigo testamento retrógrado aprisionador da pessoa humana, não reconhecendo os seus ideais nem uma consciência individual própria às pessoas. Dos 27 estados pertencentes à Conferência islâmica, nenhum está livre do islamismo. Onde se encontram os pacifistas muçulmanos a distanciar-se e a protestar nas ruas contra as barbaridades terroristas de seus correligionários que os põem em má luz? Será que a violência e o poder muçulmanos são sagrados e têm de se refugiar num jogo hipócrita das escondidas, com as contradições do Corão? Torna-se urgente o surgimento de um movimento protestante no seio do xiismo e do sunismo para se contrariar o estrebucho do dragão e se entrar nos novos tempos do ecumenismo das religiões.

Resumindo

Quer queiramos quer não, islão, guerra e terror parecem pertencer ao mesmo contexto (Há que ultrapassar este contexto!). Pelo que se observa a nível internacional nenhum país, onde se encontrem grupos de muçulmanos politicamente organizados, se encontra seguro quanto à paz social e até, quando se organizam em maiorias, quanto à integridade das suas fronteiras, dado, como diz o politólogo Hamed Abdel-Samad, “onde ele actue politicamente é fascista”… “Eles desumanizam os seus adversários, negam-lhe o direito de existir e tomam em conta a sua destruição total”… “no mundo desta gente não se luta pela vida, vive-se para lutar”… Na altura em que o caricaturista dinamarquês desenhou Maomé com uma bomba no turbante, o mundo islâmico levantou-se por toda a parte contra ele e contra o ocidente, chegando a haver mesmo mortes; agora que o IS assassina em nome do Islão, o mundo islâmico, pelo mundo fora, “não se sente denegrido nem ofendido”. “O que o autêntico islão é, vemo-lo precisamente no Iraque e na Síria” (in HNA 19.09.2014). “Todas as associações salafistas têm que ser proibidas, para lhes dificultar o acesso de jovens muçulmanos… pois vão para criminosos quando vão para eles”.

É uma utopia pretender disciplinar o Islão a partir de fora, dado possuir uma doutrina absolutista que, por um lado, exclui a diferenciação e, por outro, fortalece as forças caóticas da base. Ao não ser estruturado (sem organigrama institucional conciso), aposta nas forças caóticas e revolucionárias da circunstância que lhe dão a sustentabilidade histórica necessária para lá do país concreto; diria que, na sua forma original, se poderia talvez etiquetar de uma forma de fascismo socialista adequada à base tribal das suas origens árabes e, neste sentido, expressa-se de modo ad hoc, vivendo do paradoxo, a nível intelectual e filosófico ajudado por uma jurisprudência casuística. O ocidente, com uma outra doutrina e socialização, não entende o mundo muçulmano nem o mundo muçulmano entende o ocidente. O mesmo se dá, generalizando, entre a espiritualidade ocidental e a da Índia. O papel da dúvida metódica no pensamento ocidental como alavanca do progresso contrapõe-se ao papel do paradoxo da cultura árabe como pretexto do pensamento para ser mantido o status quo, o retrocesso na contradição. Interessante que no momento em que Maomé deixou Meca para se estabelecer em Medina, Deus mudou de ideia. As Suras suaves do Corão reveladas em Meca passam a ser contraditas pelas revelações de Medina: aqui se encontra a génese do paradoxo árabe. Este facto poderia ser aproveitado pelos eruditos islâmicos para possibilitarem uma teologia interpretativa adequada aos tempos, doutro modo manterão a espiritualidade sujeita à jurisprudência. Em vez de acentuarem as suras agressivas de Medina podiam desenvolver a espiritualidade no sentido das Suras mais pacíficas de Meca.

As aspirações hegemônicas árabes, iranianas, turcas são difíceis de concretizar numa doutrina comum, de si hegemónica, mas que deixa a organização e a estratégia de aplicação dos seus objectivos a movimentos e caudilhos locais, mantendo-se ancorada no sistema patriarcal.

Na primavera árabe do norte de África (2011), os grupos fanáticos juntam-se aos rebeldes sedentos de mudança (a geração Facebook) e acabam por vencê-los. Também em 1978, Aiatola Khomeini se uniu aos comunistas revoltosos contra o Shah Reza Pahlavi da então Pérsia (Irão) conseguindo, com o apoio deles, instalar a teocracia islâmica. A partir da revolução do Irão, o terrorismo internacional ganhou terreno, a passos largos.

A guerra do Iraque contra Irão era uma guerra entre sunitas (primeiramente apoiados pela USA) e xiitas – os USA intervieram contra Sadam Hussein e ao saírem instala-se um regime pior que o anterior; no Afeganistão sunita (equipado pela CIA e financiado pelas monarquias árabes sunitas) dá-se a guerra contra comunistas (União Soviética) que se retiraram em 1989. O radicalismo sunita é financiado por uns e o radicalismo xiita por outros. Os USA, a Rússia e outras potências servem-se das lutas internas entre os diferentes interesses muçulmanos para se assegurarem do petróleo e fomentarem a indústria bélica e depois do conflito ganharem com a reconstrução.

A opinião pública e publicada, subestima a realidade islâmica que pressupõe governos autoritários ou déspotas que possibilitem estabilidade que possibilite o desenvolvimento económico e cultural para poderem um dia viabilizar a formação de uma sociedade civil avançada. Os mesmos que jubilavam com a primavera arábica fomentavam ingenuamente a fragmentação da Síria com o apoio armado da ISIS contra o ditador Assad. O preço está a delinear-se na divisão do Iraque em territórios xiita, sunita e curdo com a perseguição e expulsão dos cristãos.

Vítima real e intelectual torna-se quem não possui capacidade de diferenciação e de integração. O passo para a fraternidade de povos e religiões pressuporia a renúncia à verdade empedernida, em benefício do compromisso construtor de colaboração e de paz. Tudo fala, tudo berra e ninguém se preocupa em descobrir quem produz a guerra, quem fabrica as armas e as redes que ganham com elas. Os cavaleiros de Maomé, fieis ao Corão sentem-se os senhores e guardiães de Deus e da Verdade e os defensores da democracia, sentem-se os senhores das riquezas do mundo. A verdade de uma religião ou de uma civilização não se reduz à teoria ou ao discurso, ela só se pode ver nas obras.

A vida humana e social é uma teia de conflitos, pelo que, o essencial não é ver quem tem razão, mas resolver conflitos. Querer possuir a verdade absoluta significa subestimar a vida e não se desenvolver. A Verdade é a-perspectiva e como tal é um processo numa relação trinitária pessoal e dinâmica na unidade do eu-tu-nós. A terra é grande, Deus é maior, nele há lugar para todos. “Bem-aventurado os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.” (Mt 5:9)

Religiões são parábolas da realidade que expressam a antropologia e a sociologia de uma civilização. Religião verdadeira é a que faz do Homem irmão independentemente de raça, credo ou cor!
©António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu

 

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

12 comentários em “A GUERRILHA ISLÂMICA DETERMINA A CISÃO DOS POVOS NO SÉCULO XXI”

  1. É um tema quente dos tempos que correm…e uma reflexão para quem não olha só para o umbigo ! Quem olha o Mundo por cima ê confrontado com sinais preocupantes de regresso à barbárie !
    Excelente análise do António Justo! É um Jornalista , filósofo e sobretudo um homem da cultura humanista, preocupado com o devir da Europa e do nosso País!
    Um abraço .
    J C M

  2. Mais uma ótima contribuição do sr. Antonio Justo.
    Ficou muito evidente o uso desta religião (Islamismo) para fins divergentes daqueles aos quais uma religião deve convergir, ou seja, religação do homem com Deus. Em nome dessa religião lamentavelmente cometem-se infindáveis atrocidades.
    É realmente curioso como em religião os mecanismos são repetitivos, seja para o bem ou para o mal. O que choca é que hoje, ao par de todo o desenvolvimento no campo das idéias, do humanismo, dos conceitos filosóficos, do pensamento sensato, e de toda a tecnologia e conhecimento cientifico alcançado pela humanidade ainda ocorra o uso de um “meio” voltado justamente para o combate daquilo a que uma religião se presta.
    O Islã, de modo “talvez” mais chocante, pois os fatos ocorrem do ponto de vista de um observador contemporâneo aos fatos, nos dias de hoje, repete as mesmas atrocidades que outras religiões já cometeram, ou melhor, pessoas que delas se apropriam e fazem mal uso de seus princípios e mesmo agem evocando-os, com fins destrutivos, o fazem e agem visando a satisfação de interesses totalmente divergentes da causa original da religião que estes desvirtuam.
    Não tenho dúvidas que parte do erro é estrutural nestas religiões. São formadas em caráter altamente hierarquizado, verticalizados, os quais algum “espertalhão de plantão”, ao apropriar-se de algum elevado cargo “sacerdotal”, percebe-se com capacidade real de influir em toda uma cadeia de lideranças eclesiásticas de maneira a influir no melhor que a criatividade permitir no intuito de dar a cabo seus objetivos escusos, e de quem os apóie, objetivos nos quais os seguidores religiosos passam a serem meros recursos para fins obscuros.
    Por isso, as novas religiões que surgirem devem realmente ser estruturadas de outra forma, justamente para coibir a repetição deste viciado mecanismo. É nesta lógica que a religião brasileira foi pensada. Nada de verticalismos ou categorias de subordinação hierárquica. Poda-se parte das asas da corrupção pela raiz. O “modus operandi” das futuras religiões vai mudar muito. Fiquei, recentemente sabendo, que já está em estudo a formação de uma versão, nos moldes da religião brasileira, para Portugal. Os estudos da “psique” necessários a formação do padrão de manifestação está sendo feito. Daqui a algo entre 150 (cento e cinqüenta) anos e 200 (duzentos) anos, ocorrerão as primeiras manifestações em solo português de uma religião mais adstringente ao modo português de se viver a vida. O mesmo ocorrerá em paises com a Rússia.
    A forma básica deste modelo já opera no Brasil a cerca de 100 (cem) anos. Esta forma básica é uma espécie de prototípica, pois sei que será bastante melhorada. Sua codificação remonta o período colonial brasileiro. Engana-se quem pensa que religião nasce do dia para a noite. Religiões levam anos de estudo e desenvolvimentos até serem manifestadas, e só o são quando surgem condições para isso. Muito antes do Judaísmo, Cristianismo e tantas outras religiões surgirem, seus estudos, de cada uma delas, haviam sido feitos.
    Mas, nesta lógica, o que teria ocorrido com o Islamismo? Erro de “projeto”? Erro de conceituação? Penso que não. Quem executa uma religião é o homem. E este, erra. Por isso o modus operandi deve mudar. No futuro (já presente no Brasil), a religião mudará a maneira de agir. Passará a ser mais focada no sujeito, no individuo, de maneira “customizada”. Este é o caminho “natural”, tão diferente do modo “mental-abstracionista” que hoje reina mundo afora.
    Abraços aos participantes,
    Vilson

    Em Diálogo Lusófonos 18/09/2014

  3. Prezados participantes no foro
    Prezado senhor Vilson, obrigado pelo seu contributo!
    O desenvolvimento hodierno possibilita uma consciência própria também a ele condicionada. Tal como acontece com as pessoas a nível de desenvolvimento individual acontece com as culturas e subculturas a nível sociológico. Não há uma simultaneidade de consciência ou desenvolvimento. No islão não se dá um desenvolvimento sociológico politicamente visível porque embora tenha surgido 600 anos mais tarde do que o cristianismo não incluiu nele a dinâmica emancipatória de desenvolvimento individual que Cristo com a democratização de Deus imprimiu ao processo de desenvolvimento humano. O islão retrocedeu na História ao não aceitar a incarnação de Deus na humanidade (divinização da pessoa) para o continuar a encerrar no livro Corão (enlivração de Deus), segundo o modelo antropológico patriarcal das tribos árabes e deste modo reservá-lo para as instituições. Ao Deus amor e pai seguiu-se um Deus alheio do temor que exige inteira submissão (islão significa submissão).
    Quanto à estruturação social (organigrama) das instituições, sejam elas políticas ou religiosas, penso ser menos relevante o seu caracter de orientação mais dedutiva ou indutiva. Não há nada sem estrutura e quanto mais diferenciado e desenvolvido um sistema é, mais evoluído ele é. A questão é mais de serviço e de consciência. O que o ser humano tem de reconhecer é que a instituição tal como o indivíduo não estão isentos de vício.
    Se extirpássemos o vício da humanidade extinguiríamos a natureza humana. Isto não deve porém apoiar as forças que elaboram o sistema servindo-se do vício.
    Quem afirmasse apenas o verticalismo ou o horizontalismo como exclusivos iria contra a variedade e riqueza da natureza; o verticalismo favorecia apenas uma sociedade dominada por embondeiros e eucaliptos e o horizontalismo transformaria a natureza numa sociedade relva (gramado). O problema está no Homem que é preciso melhorar. As estruturas institucionais, também a língua, não passam de metáforas de uma realidade sempre a querer expressar-se e em movimento, mas não redutível à expressão e como tal não aprisionável em qualquer sistema.
    O falar de Deus é sempre o falar do Homem. O Homem é ele e as suas circunstâncias; geralmente mais as circunstâncias que ele. É verdade que a religião deveria focar-se mais na ipseidade, no sujeito. Isso queria Cristo mas o Homem elabora as instituições à sua medida e a medida do homem divino é ilimitada e como tal o Homem atraiçoa-se continuamente a si mesmo ao servir-se do Homem. Cristo é protótipo e programa!
    Saudações cordiais para todos os participantes do Foro Diálogos Lusófonos
    António Justo

    António da Cunha Duarte Justo
    http://www.antonio-justo.eu

  4. Dou os meus parabens ao António Justo, por este texto sucinto, lúcido e oportuno. Oxalá este tipo de análises chegasse e tivesse impacto nas instâncias políticas certas, de modo a que, em conjunto, se encontrem as soluções adequadas para estes tempos conturbados (com justiça, em solidariedade, mas também com firmeza e clarividência).

    CPinha

  5. Caríssimo amigo e confrade Justo

    O seu artigo está, como sempre, informado e cabal.

    A meu ver, o que vai contra o caro Justo, o que o fragiliza – mas tem todo o direito, claro, de o ser – é a sua feição crente.
    Com efeito, todos os textos canónicos, primitivos ou modernos, são bem explícitos: “Deus”, ou seja, os alienígenas que foram tomados por deuses, criaram o homem e cito “para nos amarem e servirem”. Explicando-me: na sua opinião “Deus” teria criado o homem para ser livre, o que não corresponde à verdade Ou seja: daqui decorre que o Homem foi “feito” ou transformado para ser mero criado de “Deus” ou dos “deuses”. Isto explica que os fideístas fanáticos, falando em nome de deus, reivindiquem o direito de escravizar os seres ou, pelo menos, de se utilizarem deles arbitrariamente. O mal, caro Justo, não reside na atitude política pretensamente em contradição com a religião, supostamente benéfica se fosse seguida puramente. Não! O Mal, o sumo mal, está na religião ela mesma, pura ou impura, pois TODAS as religiões são maléficas e perniciosas, uma vez que partem da vontade autoritária e discricionária dum pretenso Ser Supremo. Que só é supremo porque, durante séculos, a encenação se manteve devido à propaganda incessante e manipuladora.
    Mas, agora, é só uma questão de tempo a verdade vir ao de cima. E nessa altura, quando a linguagem tecnológica se irmanar com os factos (contactos evidentes e realizados), as religiões ver-se-ão na sua incapacidade e impostura. Haverá então verdadeira PAZ. Porque a suprema impostura e a suprema violencia radicam-se no fideísmo (religioso ou secular, crente ou laico ou mesmo ateu). Enquanto houver religiões, que são a face mística das ideologias, ou dependencia delas, haverá violencia grupal. Totalitária, se o deus venerado é totalizador ou, no caso cristão, parcialmente impositiva se ela já foi caldeada com a aquisição dos Direitos Humanos pelo progredir dos séculos (Hoje os cristãos já não massacram porque a Democracia, ainda que frágil e confusa, lho impede).

    Sei que o caro Justo é um homem de bem. E por isso lhe falo abertamente, o que não faria se o não considerasse assim.

    Receba o abraço firme do seu, de sempre,
    A habitação condiciona
    fg/ns

  6. Caríssimo confrade Francisco Garção
    Concordo com a fragilidade porque a acho como o suporte e ao mesmo tempo reflexo do infinito.. (o homem é um ser em processo enquadrado na evolução, e a consciência daquele enquadramento que nos é dado perceber a uma primeira leitura. Considero Deus como a grandeza que engloba toda a potencialidade e como tal uma incógnita elevada à infinita potência e que por isso o criado, tal como a semente, traz em si a potência total (natureza-filiação divina); como tal a hipótese das hipóteses que não se pode reduzir a uma linguagem ou consciência nem tão-pouco a um processador de consciência. (Só nos podemos mover no âmbito das potencialidades usando para isso modelos e sistemas (formas de linguagem, num mundo rico de analogias, parábola como partes da grande realidade que tudo engloba) que procuram perscrutar para além do que transcende a inteligência e o condicionamento da forma de vida própria do nosso peregrinar; daí, se pensarmos analogicamente assim como falamos de via terrena e da vida espiritual, poderíamos falar de outras formas de vida além da imaginativa, afectiva, conforme os blocos de construção de vida ou esquemas de vidas ou morfologias (de facto uma relação entre dois seres pode criar uma outra vida ou um outro viver amoroso….) Neste sentido a palavra “ser livre” poderia ser arbitrariamente substituída por ser aberto, inacabado, no sentido da nostalgia do infinito.
    Naturalmente se viu bem nas entrelinhas do que escrevi e nalgumas linhas, falei de religião, ciência ou outros modelos como meras metáforas ou parábolas da realidade, de si inatingíveis pelos meios de acesso que temos. A experiência mística a nível de alma-encontro e de eureca a nível de espírito (diferenciações que possibilitam a navegação intuitiva, emocional, intelectual…) poder chegar lá se não se empedernir – no momento em que é pronunciada já se tornou pedra que nos obriga a seguir um caminho cimentado quando o nosso verdadeiro andar se dá e experimenta sobre a água (a natureza de Cristo quando andava sobre as águas). Penso que a experiência mística não deixa reduzir o Homem a um criado de Deus. Não penso que o mal esteja na religião O mal vem da fala. Só o facto de o Homem falar estrangula a vida no conceito, na fala. Por isso o cristianismo não pode ser reduzido a credo; ele é pessoa viva e sempre outra e como tal não reduzido à filosofia ou à dogmática; ele não se pensa, acontece e quando muito faz-se, actua. A linguagem é apenas um caminho, tal como o intelecto, e a emoção, etc.. A verdade será a crosta que tentamos apalpar; por isso dizia o Mestre:”quem tem ouvidos para ouvir que oiça”. Que seria do peixe se não tivesse a água pra nadar! A Água limita-o mas dá-lhe por outro lado possibilidade.
    Geralmente trata-se de enquadrar e procurar dar resposta aos problemas do dia a dia. Naturalmente que a vida se pode realizar em diferentes esferas ou níveis em que o mistério se torna a fronteira do saber e o saber o impedimento do experimentar. Esta é a realidade em que estamos inseridos e consta, numa certa forma de a apreender, de matéria e espírito e, nesta equação ou enquadramento, o modelo protótipo para este nível de vida é a divindade encarnada. No JC encontramos a tensão resolvida que a humanidade tem para percorrer e que vai do espírito ao elemento. A crença em Deus engloba a crença numa realidade virtual ou numa dimensão nano que se poderia imaginar até na ideia ou sentimento. Por mais que basculhemos o universo poderíamos dizer que o universo divino ainda terá mais para basculhar.
    Os diferentes mundos de seres celestes, anjos e arcanjos, também eles criatura tentam religar algo já conhecido, a terra ao divino para do contacto se chegar a uma nova consciência percepção, a criaturas de outros mundos. Deus criou o céu e a terra e outras criaturas celestes… pelos vistos o homem veio depois . As especulações religiosas ou científicas servem a curiosidade, a saudade do que não se é e de um ser que se encontra enredado pelos véus do saber. Mundo sem evidências… que traz pata a humanidade uma outra especulação religiosa ou científica? Independentemente do objecto da crença o mais importante não é a crença mas o que ela esconde. Foi ela que nos fez observar a luz e depois formular palavras de modo a sermos feitos de palavras.
    Um grande a braço do confrade
    António Justo

  7. Caríssimo confrade Francisco G
    Concordo com a fragilidade porque a acho como o suporte e ao mesmo tempo reflexo do infinito.. (o homem é um ser em processo enquadrado na evolução, e a consciência daquele enquadramento que nos é dado perceber a uma primeira leitura. Considero Deus como a grandeza que engloba toda a potencialidade e como tal uma incógnita elevada à infinita potência e que por isso o criado, tal como a semente, traz em si a potência total (natureza-filiação divina); como tal a hipótese das hipóteses que não se pode reduzir a uma linguagem ou consciência nem tão-pouco a um processador de consciência. (Só nos podemos mover no âmbito das potencialidades usando para isso modelos e sistemas (formas de linguagem, num mundo rico de analogias, parábola como partes da grande realidade que tudo engloba) que procuram perscrutar para além do que transcende a inteligência e o condicionamento da forma de vida própria do nosso peregrinar; daí, se pensarmos analogicamente assim como falamos de via terrena e da vida espiritual, poderíamos falar de outras formas de vida além da imaginativa, afectiva, conforme os blocos de construção de vida ou esquemas de vidas ou morfologias (de facto uma relação entre dois seres pode criar uma outra vida ou um outro viver amoroso….) Neste sentido a palavra “ser livre” poderia ser arbitrariamente substituída por ser aberto, inacabado, no sentido da nostalgia do infinito.
    Naturalmente se viu bem nas entrelinhas do que escrevi e nalgumas linhas, falei de religião, ciência ou outros modelos como meras metáforas ou parábolas da realidade, de si inatingíveis pelos meios de acesso que temos. A experiência mística a nível de alma-encontro e de eureca a nível de espírito (diferenciações que possibilitam a navegação intuitiva, emocional, intelectual…) poder chegar lá se não se empedernir – no momento em que é pronunciada já se tornou pedra que nos obriga a seguir um caminho cimentado quando o nosso verdadeiro andar se dá e experimenta sobre a água (a natureza de Cristo quando andava sobre as águas). Penso que a experiência mística não deixa reduzir o Homem a um criado de Deus. Não penso que o mal esteja na religião O mal vem da fala. Só o facto de o Homem falar estrangula a vida no conceito, na fala. Por isso o cristianismo não pode ser reduzido a credo; ele é pessoa viva e sempre outra e como tal não reduzido à filosofia ou à dogmática; ele não se pensa, acontece e quando muito faz-se, actua. A linguagem é apenas um caminho, tal como o intelecto, e a emoção, etc.. A verdade será a crosta que tentamos apalpar; por isso dizia o Mestre:”quem tem ouvidos para ouvir que oiça”. Que seria do peixe se não tivesse a água pra nadar! A Água limita-o mas dá-lhe por outro lado possibilidade.
    Geralmente trata-se de enquadrar e procurar dar resposta aos problemas do dia a dia. Naturalmente que a vida se pode realizar em diferentes esferas ou níveis em que o mistério se torna a fronteira do saber e o saber o impedimento do experimentar. Esta é a realidade em que estamos inseridos e consta, numa certa forma de a apreender, de matéria e espírito e, nesta equação ou enquadramento, o modelo protótipo para este nível de vida é a divindade encarnada. No JC encontramos a tensão resolvida que a humanidade tem para percorrer e que vai do espírito ao elemento. A crença em Deus engloba a crença numa realidade virtual ou numa dimensão nano que se poderia imaginar até na ideia ou sentimento. Por mais que basculhemos o universo poderíamos dizer que o universo divino ainda terá mais para basculhar.
    Os diferentes mundos de seres celestes, anjos e arcanjos, também eles criatura tentam religar algo já conhecido, a terra ao divino para do contacto se chegar a uma nova consciência percepção, a criaturas de outros mundos. Deus criou o céu e a terra e outras criaturas celestes… pelos vistos o homem veio depois . As especulações religiosas ou científicas servem a curiosidade, a saudade do que não se é e de um ser que se encontra enredado pelos véus do saber. Mundo sem evidências… que traz pata a humanidade uma outra especulação religiosa ou científica? Independentemente do objecto da crença o mais importante não é a crença mas o que ela esconde. Foi ela que nos fez observar a luz e depois formular palavras de modo a sermos feitos de palavras.
    Um grande a braço do confrade
    António Justo

  8. Caro confrade e amigo Justo

    Em primeiro lugar quero exprimir o respeito que sinto por si, independentemente da diferença de opiniões sobre o facto religioso (porque vi, com estes que a terra há-de comer, pessoas de outros lugares que os nossos antepassados, por não terem linguagem tecnológica chamaram deuses, sei muito bem o que ele é).

    Então é assim: o que o caro Justo diz está certíssimo – mas apenas se os deuses fossem deuses de facto – e não simplesmente gente de outros lugares que, por falta de conhecimento conceptual e efectivo, e também manipulação dos seus apaniguados na Terra, os humanos tenham nomeado como deuses e posto como seres de veneração…
    A feição de religação é imanente no ser humano. Só que a re-ligação, que parte dum apelo interior de ordem espiritual-poética, legítima, foi aproveitada pelos “delegados” que manobram a Hierarquia para exercer uma acção prepotente sobre as pessoas…. Caro amigo Justo: submeta a Bíblia e todos os livros “santos” de outras religiões a uma análise sob este prisma (os ditos “deuses” não são deuses e sim pessoas de algures com vastíssimas diferenças para mais) começará a ver mais claro. E não necessitará da religião nem da pseudo-“espiritualidade” para nada, basta o nosso ser de ser humano para nos sentirmos SERES DIGNOS E IRMÃOS DO UNIVERSO.

  9. Caro amigo,
    se bem leu o que escrevi, certamente reconhecerá que apresento tudo, até a chamada “realidade” e o falar dela, (incluindo intermediários, Deus) como metáforas e parábolas de uma Realidade mais profunda. Também os mitos não são mais que a documentação da expressão do desenvolvimento do ser humano em processo.

    Interessante é fazer-se a fenomenologia dessas parábolas, sejam elas colectivas ou individuais para nos podermos desenvolver e desenvolvê-las.

    Respeito todas as posições como tentativas de explicação e de aproximação à realidade,e como tal, metáforas. Não será que também nós não somos uma parábola de outras realidades?
    Por isso é importante continuarmos cautelosos no que respeita à catalogação e categorização de Deus e da religião. Penso que quem atinge certas esferas da realidade, tal como o amigo, terá consequentemente de ser totalmente aberto, compreensivo e misericordioso na avaliação das pessoas-estruturas e compreender as supraestruturas que as alargam e limitam. Doutro modo a experiência passa a fomentar a guerra. Naturalmente também acho muito importante o argumento e contra-argumento que possibilite o reconhecimento da penumbra no escuro.
    Todo o que pretende ter razão torna-se automaticamente prepotente porque deixa de ver o lado negro da lógica tornando-se naturalmente num colonizador mental. O que está fundamentalmente em causa não é Deus ou o Homem mas a linguagem! E o problema continua no facto de o ser humano ser também linguagem, se desenvolver através da linguagem e se identificar com ela. Apesar de tudo, se não fosse a linguagem não teríamos passado do homem do Neandertal. Se não fossem as linguagens, embora petrificadas, dos mitos, narrativas, sonhos e imaginações não poderíamos pensar hoje o que pensamos.

    Assim temos de incluir o equívoco e a dúvida em toda a nossa maneira de pensar, sendo o discurso não mais que um jogo, à maneira do bebé que vai tocando e provando para ser. A sociedade é um jardim infantil e nós somos crianças a jogar nele. Somos todos irmãos e filhos incógnitos à procura da origem, do sentido e do fim num pluriverso material e espiritual sempre a caminho.
    Grande abraço
    António Justo

  10. Caríssimo amigo Justo

    É bem verdade o que diz. Concordo que toda a posição angular pode levar a prepotências.

    Mas aqui o problema é de ordem puramente física e não metafísica, faço-me entender?

    Falando claramente: aproveitando-se do facto de os homens antigos não possuirem conhecimentos tecnológicos (nem falo de conhecimentos científicos) e porque a Humanidade estava na fase mística do desenvolvimento, certas entidades que frequentemente passam pela Terra apresentaram-se como deuses ao homem primitivo. Daí resultaram as chamadas “religiões reveladas” que o meu amigo como teólogo conhece bem. Disso resultou ainda que pelos tempos fora as diversas hierarquias das diversas confissões decorrentes (a uns revelaram-se como Alá, a outros como Jeová e por aí adiante) tomaram ou tentaram tomar conta do imaginário dos que lhes estavam na dependencia, criando uma realidade política totalizadora (género: Deus é o nosso chefe; nós representamo-lo e falamos por ele; como tens que seguir os ditames dele, tens de seguir os nossos; logo, faz isto que te digo e não discutas) Como, por ser teólogo precisamente, sabe, é esta grosso modo o procedimento dos chefes de TODAS as religiões E nem o fazem por mal, saliento! Pelo menos alguns. Fazem-no porque acreditam que é a vontade do que tomam por deus, frequentemente até procuram agir positivamente e muitos desses crentes são pessoas boas e sensíveis (os chamados santos, não forjados mas santos mesmo). Depois, há a evolução temporal: umas (o cristianismo por exemplo) fecundado pela aquisição dos direitos humanos e da democracia real, deixam de ser totalitários ou moderam o seu totalitarismo (caso do cristianismo, insisto); outras, como o islamismo, evoluem negativamente e tornam-se, ou continuam a ser, totalitárias e fascizantes (como podemos dizer usando um termo contemporâneo).

    Mas a realidade é esta: as agremiações que resultaram da chamada “revelação teísta” são SEMPRE, tirando-se a retórica “religiosa”, agremiações POLÍTICAS (de polis), visando actuação POLÍTICA. Dou um exemplo: o Papa, sendo entidade que decorre duma forjada “feição religiosa” é sim um dirigente político, um chefe político inegável. Embora para as massa se apresente como um dirigente espiritual e use caução espiritual.

    Creio que isto não sofre dúvida.

    Antes de passar adiante, refiro que, sabendo isto lucidamente, acho que no actual estado de coisas faz falta que os apaniguados cristãos tenham representatividade e força real, para obstarem à barbárie islamita ou outra pseudo-laica. Mas é uma questão de bom senso e de honestidade intelectual, pois EU SEI MUITO BEM que o que é apresentado como o deus dos cristãos NÃO EXISTE COMO DEUS REAL, é apenas fruto de uma ideia compósita a partir de algo real que houve, o contacto antigo com um ser de outer space e a posterior sedimentação no imaginário colectivo devido à feição poética-funcional a que se chama, erradamente, “mente religiosa ou espiritualidade”.
    Continuando: agora, de há umas décadas a esta parte, já se possui linguagem tecnológica decorrente da aquisição paulatina de conhecimentos tecno-científicos. Assim sendo, os seres e contactos passaram a ser designados como extra-terrestres, alienígenas, etc., pois a mentalidade que lhes chamava, nos tempos da não-racionalidade, deuses, evolou-se.

    (Alguns desses seres ainda tentam por vezes fazer-se passar (melhor, deixam que um equívoco permaneça, por conveniencia própria) por entidades imanentes (o caso de Fátima, Lourdes, Medjgorje, etc). Daí que eu tenha dito frequentemente que, por exemplo, Fátima não foi uma burla dos padres (o contacto sucedeu mesmo – e eu sei-o porque o meu pai teve um contacto IGUAL, só que, por os seus pais não serem sacristas não o levou avante, mas contou-me o que se passara era ele pequeno de 11 anos e, um dia mais tarde – o caro Justo não o sabe, mas um contactado ganha a possibilidade de ter a capacidade (a re-ligação?) de instintivamente saber em que altura esses seres voam sobre a Terra e, portanto, numa certa tardinha eu também pude ver diversas naves e, a uns cinco ou seis metros de mim, três seres tão carnais como o meu amigo o é, que entabularam uma breve “conversa” com o meu pai e, de súbito, desapareceram indo de novo presumo para o seu meio de transporte).

    Mas é uma burla da Igreja, pois hoje o Papa – garanto-lhe! – sabe bem o que se passou em Fátima e, no entanto, deixa que a treta continue a existir e consente que as massas fanatizadas sigam nessa via.

    E por isso é que eu escrevi aquele texto “Fátima ou o fim da Igreja”. Pois que acontecerá quando num dia se SOUBER que quem esteve ali não foi a Nossa Senhora, pobre dela, mas sim uma entidade outer space que muito terrenamente visou veicular uma mensagem de senso comum? (A entidade NUNCA se disse, por exemplo, ser Nossa Senhora – nem podia, por seriedade alienígena (risos). Tal como ao meu pai, disse sim que vinha lá de cima e não era desta Terra, que vinha do que chamamos Céu. Mostrou ao meu pai, mais tarde, o veículo em que viera com os, termo dela, “parentes”, disse-lhe que olhasse depois dela ter ido embora, desaparecido (e ele viu a enorme nave, brilhando, o que em Fátima foi chamado ainda que com outras tipicidades, o milagre do sol. Percebe? Saliento que a “conversa” se deu – e cito as palavras dele – de forma especial: “Ouvia a vozinha da Senhora na minha cabeça, era uma voz fininha e muito bonita, quando eu lhe respondia a senhora punha o aparelhinho que trazia na mão (a Lucia chamou-lhe terço, a esse sistema integrado) junto da cabeça, devia ser para ouvir melhor”. Repito esta menção ingénua do meu pai, creio que a “conversa” assumia foros ou telepáticos ou devido a técnicas que não conhecemos.

    Portanto, mais tarde, por leituras capacitadas, percebi o que eram essas entidades – semelhantes aos que se faziam passar por deuses – e como se apresentava a História a olhos não semi-cerradoas.

    Tudo o que o caro Justo diz é compreensível – a partir da sua experiencia humana e teológica, que vê como metafísico algo que é puramente físico, ainda que difícil de entender. E, apesar de ser puramente físico, da realidade real, da terrinha e não mais que da terrinha, isso não lhe tira o seu valor transcendente, a poesia inerente e a categoria de algo valioso.

    Caro amigo e confrade, devo referir-lhe com estima o facto de que a pouco e pouco – e hoje são já milhões que o vão sabendo – a realidade que lhe referi vai intensificar-se. Os contactos vão ser cada vez mais marcados, até ao momento em que tal se torne indubitável. E alerto-o para algo importante: será um erro encararem-se os de outer space sempre como gente muito boa ou que virá forçosamente ajudar as gentes da Terra. Há gente dessa que é boa mas também a há que o não é, aliás tal como as religiões reveladas mostram. (A esses seres do outro lado mau foi dado o nome tradicional de demónios, ou pelo estilo).

    Em parte, o chamado terceiro segrado de fátima assentava nisso. E foi por o ter tentado fazer saber, sem contudo ter percebido bem o seu significado, que o cordato e bom Luciani foi assassinado – não foi apenas por ir demitir gente pelo caso do banco Ambrosiano…

    Tudo isto que lhe digo não é facilmente apreensível. Tanto mais porque o caríssimo Justo, sendo teólogo, ganhou uma feição de estudo e de razão a que eu chamaria tradicional. Mas como é claramente muito inteligente e, notoriamente, um homem de bem e visando o bem e não a intensificação do domínio da gente velhaca da hierarquia, espero que a pouco e pouco entre na Luz que lhe é afinal tão próxima. Mas seja como fôr, vá ou não por esse caminho, será sempre alguém a quem endossarei a minha estima e o meu abraço firme.

    Fica com apreço o seu
    n.

  11. Caríssimo amigo Justo

    É bem verdade o que diz. Concordo que toda a posição angular pode levar a prepotências.

    Mas aqui o problema é de ordem puramente física e não metafísica, faço-me entender?

    Falando claramente: aproveitando-se do facto de os homens antigos não possuirem conhecimentos tecnológicos (nem falo de conhecimentos científicos) e porque a Humanidade estava na fase mística do desenvolvimento, certas entidades que frequentemente passam pela Terra apresentaram-se como deuses ao homem primitivo. Daí resultaram as chamadas “religiões reveladas” que o meu amigo como teólogo conhece bem. Disso resultou ainda que pelos tempos fora as diversas hierarquias das diversas confissões decorrentes (a uns revelaram-se como Alá, a outros como Jeová e por aí adiante) tomaram ou tentaram tomar conta do imaginário dos que lhes estavam na dependencia, criando uma realidade política totalizadora (género: Deus é o nosso chefe; nós representamo-lo e falamos por ele; como tens que seguir os ditames dele, tens de seguir os nossos; logo, faz isto que te digo e não discutas) Como, por ser teólogo precisamente, sabe, é esta grosso modo o procedimento dos chefes de TODAS as religiões E nem o fazem por mal, saliento! Pelo menos alguns. Fazem-no porque acreditam que é a vontade do que tomam por deus, frequentemente até procuram agir positivamente e muitos desses crentes são pessoas boas e sensíveis (os chamados santos, não forjados mas santos mesmo). Depois, há a evolução temporal: umas (o cristianismo por exemplo) fecundado pela aquisição dos direitos humanos e da democracia real, deixam de ser totalitários ou moderam o seu totalitarismo (caso do cristianismo, insisto); outras, como o islamismo, evoluem negativamente e tornam-se, ou continuam a ser, totalitárias e fascizantes (como podemos dizer usando um termo contemporâneo).

    Mas a realidade é esta: as agremiações que resultaram da chamada “revelação teísta” são SEMPRE, tirando-se a retórica “religiosa”, agremiações POLÍTICAS (de polis), visando actuação POLÍTICA. Dou um exemplo: o Papa, sendo entidade que decorre duma forjada “feição religiosa” é sim um dirigente político, um chefe político inegável. Embora para as massa se apresente como um dirigente espiritual e use caução espiritual.

    Creio que isto não sofre dúvida.

    Antes de passar adiante, refiro que, sabendo isto lucidamente, acho que no actual estado de coisas faz falta que os apaniguados cristãos tenham representatividade e força real, para obstarem à barbárie islamita ou outra pseudo-laica. Mas é uma questão de bom senso e de honestidade intelectual, pois EU SEI MUITO BEM que o que é apresentado como o deus dos cristãos NÃO EXISTE COMO DEUS REAL, é apenas fruto de uma ideia compósita a partir de algo real que houve, o contacto antigo com um ser de outer space e a posterior sedimentação no imaginário colectivo devido à feição poética-funcional a que se chama, erradamente, “mente religiosa ou espiritualidade”.
    Continuando: agora, de há umas décadas a esta parte, já se possui linguagem tecnológica decorrente da aquisição paulatina de conhecimentos tecno-científicos. Assim sendo, os seres e contactos passaram a ser designados como extra-terrestres, alienígenas, etc., pois a mentalidade que lhes chamava, nos tempos da não-racionalidade, deuses, evolou-se.

    (Alguns desses seres ainda tentam por vezes fazer-se passar (melhor, deixam que um equívoco permaneça, por conveniencia própria) por entidades imanentes (o caso de Fátima, Lourdes, Medjgorje, etc). Daí que eu tenha dito frequentemente que, por exemplo, Fátima não foi uma burla dos padres (o contacto sucedeu mesmo – e eu sei-o porque o meu pai teve um contacto IGUAL, só que, por os seus pais não serem sacristas não o levou avante, mas contou-me o que se passara era ele pequeno de 11 anos e, um dia mais tarde – o caro Justo não o sabe, mas um contactado ganha a possibilidade de ter a capacidade (a re-ligação?) de instintivamente saber em que altura esses seres voam sobre a Terra e, portanto, numa certa tardinha eu também pude ver diversas naves e, a uns cinco ou seis metros de mim, três seres tão carnais como o meu amigo o é, que entabularam uma breve “conversa” com o meu pai e, de súbito, desapareceram indo de novo presumo para o seu meio de transporte).

    Mas é uma burla da Igreja, pois hoje o Papa – garanto-lhe! – sabe bem o que se passou em Fátima e, no entanto, deixa que a treta continue a existir e consente que as massas fanatizadas sigam nessa via.

    E por isso é que eu escrevi aquele texto “Fátima ou o fim da Igreja”. Pois que acontecerá quando num dia se SOUBER que quem esteve ali não foi a Nossa Senhora, pobre dela, mas sim uma entidade outer space que muito terrenamente visou veicular uma mensagem de senso comum? (A entidade NUNCA se disse, por exemplo, ser Nossa Senhora – nem podia, por seriedade alienígena (risos). Tal como ao meu pai, disse sim que vinha lá de cima e não era desta Terra, que vinha do que chamamos Céu. Mostrou ao meu pai, mais tarde, o veículo em que viera com os, termo dela, “parentes”, disse-lhe que olhasse depois dela ter ido embora, desaparecido (e ele viu a enorme nave, brilhando, o que em Fátima foi chamado ainda que com outras tipicidades, o milagre do sol. Percebe? Saliento que a “conversa” se deu – e cito as palavras dele – de forma especial: “Ouvia a vozinha da Senhora na minha cabeça, era uma voz fininha e muito bonita, quando eu lhe respondia a senhora punha o aparelhinho que trazia na mão (a Lucia chamou-lhe terço, a esse sistema integrado) junto da cabeça, devia ser para ouvir melhor”. Repito esta menção ingénua do meu pai, creio que a “conversa” assumia foros ou telepáticos ou devido a técnicas que não conhecemos.

    Portanto, mais tarde, por leituras capacitadas, percebi o que eram essas entidades – semelhantes aos que se faziam passar por deuses – e como se apresentava a História a olhos não semi-cerradoas.

    Tudo o que o caro Justo diz é compreensível – a partir da sua experiencia humana e teológica, que vê como metafísico algo que é puramente físico, ainda que difícil de entender. E, apesar de ser puramente físico, da realidade real, da terrinha e não mais que da terrinha, isso não lhe tira o seu valor transcendente, a poesia inerente e a categoria de algo valioso.

    Caro amigo e confrade, devo referir-lhe com estima o facto de que a pouco e pouco – e hoje são já milhões que o vão sabendo – a realidade que lhe referi vai intensificar-se. Os contactos vão ser cada vez mais marcados, até ao momento em que tal se torne indubitável. E alerto-o para algo importante: será um erro encararem-se os de outer space sempre como gente muito boa ou que virá forçosamente ajudar as gentes da Terra. Há gente dessa que é boa mas também a há que o não é, aliás tal como as religiões reveladas mostram. (A esses seres do outro lado mau foi dado o nome tradicional de demónios, ou pelo estilo).

    Em parte, o chamado terceiro segrado de fátima assentava nisso. E foi por o ter tentado fazer saber, sem contudo ter percebido bem o seu significado, que o cordato e bom Luciani foi assassinado – não foi apenas por ir demitir gente pelo caso do banco Ambrosiano…

    Tudo isto que lhe digo não é facilmente apreensível. Tanto mais porque o caríssimo Justo, sendo teólogo, ganhou uma feição de estudo e de razão a que eu chamaria tradicional. Mas como é claramente muito inteligente e, notoriamente, um homem de bem e visando o bem e não a intensificação do domínio da gente velhaca da hierarquia, espero que a pouco e pouco entre na Luz que lhe é afinal tão próxima. Mas seja como fôr, vá ou não por esse caminho, será sempre alguém a quem endossarei a minha estima e o meu abraço firme.

    Fica com apreço o seu
    n.

  12. Prezado amigo Francisco G
    Acho muito oportuna a sua descrição e experiência.
    O problema começa já na distinção de física e de metafísica quando nestes assuntos se torna difícil criar-se delimitações. Na elucubração intelectual ou na abstracção da experiência feita através do intelecto ou da intuição teríamos de passar a uma física nanométrica ou espiritual que nos colocaria já na fronteira da metafísica; isto numa época em que a física quântica tem problemas com as delimitações no mundo macro e micro.
    A afirmação mítica e a científica são modelos de tentativa para explicar a realidade. O que afirma situa-se na pluralidade de explicações míticas e como tais no reino da experiência mística ou íntima sem possibilidade de prova. Os primeiros cristãos também pensavam que a revelação total estava próxima, porque a via em termos de currículo pessoal. Este aspecto pode encontrar-se embora noutra linguagem em Mircea Eliade.
    O nosso conhecimento e apreensão das realidade dependem de mecanismos de projecção e de introjecção.
    Como já referi noutro lado, reconhecendo muito embora a força do pastor/rei/presidente sobre a manada, no cristianismo genuíno houve sempre o espírito crítico e o reconhecimento da dúvida em relação a Deus e o método histórico-crítico na teologia. S. Tomás de Aquino, o grande doutor da Igreja dizia “se a tua consciência contradisser a doutrina da Igreja segue a tua consciência porque uma outra postura não seria cristã; também houve um papa que disse mais ou menos o mesmo. Isto porque apesar das sombras culturais o cristianismo (ecclesia do Novo Testamento), dito de uma maneira extrema matou Deus em Jesus Cristo, e Jesus Cristo desalienou o Homem do super-ego patriarcal institucional e religioso, para centrar a divindade no meio da natureza criada. O cristão consciente é desobediente, até pela concepção da matriz individual-comunitária-integral do Mistério da Trindade como a verdadeira fórmula da Realidade envolvente que como tal engloba as várias esferas universais e celestes do elemento, ao anjo, ao arcanjo e a outros potentados. Para a quase totalidade dos padres com quem convivi muitos anos não poderia dizer que estivessem interessados em influenciar ninguém pois o que ensinavam viviam-no na comunidade (verdadeiro comunismo com as limitações próprias do Homem); estavam empenhados em servir as pessoas no sentido de se tornarem elas mesmas, porque para o cristão a consciência é constitucional. Naturalmente o ideal está sempre condicionado ao continente e a missão também.
    Os direitos humanos são a consequência lógica da civilização judaico-cristã pelo facto de considerar o criador e a criatura participadores da natureza divina (ao contrário do Islão que só conhece o direito do grupo); cristo modelo do Homem ocidental possibilitou o desenvolvimento da filosofia ocidental no sentido do iluminismo e do comunismo. Naturalmente programa tão ideal leva milénios a entrar nos costumes. A mística cristã contrapõe-se ao totalitarismo; o gene divino na criação e em cada pessoa impede, em princípio tal, se não se deixar imbuir pelo espírito do tempo. Por isso o cristianismo não é um monoteísmo puro. O cristianismo nasceu direito entortando-se ao longo da História mas mantendo-se crítico; quanto ao islão nasceu torto mas também ele se desenvolverá certamente no sentido positivo.
    As referências religiosas ou ideológicas que se atribuem aos chefes são fruto da consciência da cultura e do tempo e como tal também elas relativas. As sociedades provindas da cultura judaico-cristã fazem a distincao entre poder espiritual e poder material (Dai a César…) sendo por isso necessário diferenciar entre o poder/serviço político e o poder/religioso, sendo em cristianismo poder=serviço, apesar do que a história ocidental mostra. Antes do “poder” religioso se ter imiscuído com o poder civil, a confissão dos representantes do povo, mesmo do rei, era feita à comunidade, pedindo-lhe perdão vestidos de saco, à porta do templo. Nesta altura a Igreja administrativa não tinha poder temporal. Naturalmente tudo isto são metáforas e símbolos de algo mais profundo!…
    O que afirma sobre a “ errada mente religiosa ou espiritualidade” poder-se-á dizer em relação a outras mentes denominem-se elas reais, espirituais ou virtuais. Quem tem hoje como ontem o direito de se afirmar como o sábio, o profeta?
    As suas bases assentam em percepções e consciências, tal como a de outros passados. No que respeita aos anjos e outros extraterrestres de outrora não se distinguem em grande parte dos alienígenas de hoje, uns e outros encontram-se envolvidos pelo mistério e servem de metáforas para procurar explicar um tempo ad hoc.
    Interessante que a própria física quântica se serve da mitologia para explicar as suas teorias que em parte se encontram incluídas nos mitos sob o manto de uma linguagem religiosa. Se imergirmos no mundo da filosofia, da religião e dos mitos, ontem como hoje nada de novo sob o sol. Naturalmente a linguagem é fruto e expressão do desenvolvimento do homem sendo este possível ao não reduzir o ser humano a pura matéria ou a puro espírito como pretendem alguns. Tudo maneiras de falar e tentativas de identificação (identidade) numa dinâmica prisional de de-finição! Cada época tem as suas experiências, as suas fantasias e meios para tentar solucionar os problemas que se lhe põem.
    O que acabei de dizer não desqualifica em nada a experiência que teve; pelo contrário! O motivo do meu discurso está no facto de perceber o mundo e a realidade em diferentes órbitras, diferentes dimensões e perspectivas e no facto de o amigo Garção se perder em ataques à religião, quando ela é uma tentativa de solução de problemas ao lado de outras.
    O que me perturbou no seu discurso foi o facto de se afirmar contra outras experiências e órbitras também possíveis numa realidade com muitos versos. Como dizia a minha mãe: “há coisas espirituais que é melhor não tocar nelas; a nossa fragilidade é desmedida no sentido do mal e do bem”. Quanto ao que viu e ouviu talvez não se distinga do que outros viram e ouviram; a única diferença estará na interpretação feita por uns ou por outros. Cada um é médium e o que medeia está à altura da sua consciência e não do revelador. Portanto nestas coisas mais que juízos de valor importa compreensão e a capacidade de agradecimento e admiração; esta porém não é tao própria da ária da razão. Também a razão não passa de uma vidraça escura através da qual se procura ver um pouco mais longe e portanto afastar-nos da Realidade.
    A sua experiência é muito interessante. Seria estimulante tentar abrir-se de maneira a poder repeti-la. Naturalmente que a abertura absoluta também implica riscos, pelo que às vezes será melhor manter-se na esfera em que uma pessoa se encontra. A sua experiência tornar-se-ia muito mais acessível se se colocasse numa maneira independente sem ser contra este ou contra aquele. Se, na forma de descrever a experiência, mostrasse a validade de outros modelos de visões humanas. O papa ou quem por ele só se pode manter na consciência ou percepção hodierna independentemente da sua experiência. A realidade espiritual mais que discursiva é mística e na experiência mística a contemplação ilumina a sombra dos discursos/metáforas. O problema não vem da revelação mas da interpretação; o mediador só pode falar segundo o formato da própria pessoa. Por isso o falar de Deus e doutros seres é sempre uma imagem ad hoc que não pode ser definida com pura realidade. Nesta ordem de ideias também se poderia dizer que nas imagens que viu e que os pastorinhos viram se mostraram diferentes versus da mesma realidade; até porque nesta ordem de coisas tudo é condicionado ao Homem e à sua consciência. O Homem não é formado por uma experiência só mas por um agregado de experiências; quanto à humanidade mais agregado é: um agregado aberto que o leva a ter saudade de outras experiências já feitas mas não conscientes. Felizmente há muitos caminhos diferentes que levam a “Roma”.
    O fenómeno que descreve a respeito de si, do seu pai e de fátima apontam para o mistério que a vida é. Reduzi-lo a um mero sentimento religioso ou a uma veleidade lógica seria a morte e o encurtamento dele. A socialização de uma pessoa é determinante na interpretação que dá às coisas; interessante é admirar o mistério sem o amachucar com a interpretação que condena noutros.
    As coisas só valem na medida em que servem o Homem, a natureza e a humanidade. A mim entristece-me o facto de uma Religião Católica em que milhares e milhões de católicos dão a sua vida desinteressadamente pelo próximo, encarando a vida apenas como serviço, é tão atacada quando outras instituições que em nada se assemelham no serviço ao Homem ou até se encontram na sua destruição deparam com tanto aplauso e compreensão. É uma questão de caminhos, de necessidades, de definição de identidades próprios de cada mortal.
    Muito obrigado pela oportunidade desta discussão
    Grande abraço
    António Justo

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