Alemanha à Frente da Revolução energética


Povo obriga a Política a abandonar a Energia atómica

António Justo

A Alemanha determinou abandonar gradualmente a produção de energia até 2022, de modo, a partir de aí ver encerradas todas as suas centrais de energia atómica. A política determina assim, de maneira unânime, um marco miliário na viragem da política atómica.

Depois da catástrofe de Fukushima, o povo alemão assustou de tal modo os diferentes partidos políticos que estes deram o seu aval à política antiatómica que os VERDES (partido ecológico) já há muito exigiam.

Com a decisão dos partidos da coligação governamental CDU/CSU (Cristãos Democratas/ Cristãos Sociais) e a cedência do FDP (Liberais), inicia-se não só o abandono da energia nuclear mas também, com ele, o abandono do FDP da arena política alemã na sua qualidade, até agora, de terceira força para possibilitar coligações. O FDP fazia alternadamente coligação com o SPD e com a CDU/CSU conforme as relações de maioria destes o permitiam. Os VERDES passarão a ser a terceira força partidária possibilitando coligações não só por razões aritméticas mas pelo facto da cor ecológica se encontrar cada vez mais forte também nos partidos conservadores. Até ao presente a política da energia atómica da CDU/CSU abria uma trincheira inultrapassável entre os conservadores e os VERDES que tornava impossível a sua coligação. A estreia duma coligação com os VERDES já se encontra à vista. O panorama político na Alemanha, a nível governamental mudar-se-á radicalmente.

Entretanto as bases dos VERDES, para não deixarem passar para a CDU/CSU a sua motivação principal, querem o abandono da energia nuclear já em 2017 e não querem que se reserve uma central de energia atómica em Stand-by (como tecnologia de ponte) para casos imprevistos no fornecimento de energia.


Os lobistas das finanças procuram fomentar tempestades contra o novo curso da CDU/CSU. A indústria de energia atómica iniciou um processo jurídico contra o Governo exigindo indemnização pelo facto da determinação do encerramento das centrais atómicas. Por seu lado os estados federados aprovaram o encerramento mas exigem ainda maior fomento da energia ecológica por parte do governo central.

A decisão tomada pelo governo e pelos partidos acarreta consigo também alguns riscos. Nos invernos podem surgir problemas de abastecimento energético na Alemanha, no caso de a França não fornecer energia por precisar dela para satisfazer as próprias necessidades de consumo. O abandona da energia nuclear pode pressupor a fomentação de centrais eléctricas de carvão e com isto o problema da poluição com o CO2. Por outro lado, o preço da energia é um factor importante para a manutenção da localização das empresas.

A Alemanha é um país com uma cultura de estabilidade e progresso tecnológico. Com a medida radical que tomou, contra a energia atómica, a Alemanha abre as portas ao fomento de novas tecnologias, em favor dum mundo mais ecológico. A Itália, naturalmente, influenciada pelas decisões tomadas na Alemanha, já se declarou, no último referendo, contra a energia atómica.

Naturalmente que em muitos países se levantarão os Velhos do Restelo, por razões financeiras, contra a política assumida pela Alemanha, principalmente aqueles que vêem a natureza e a humanidade como presa.

A voz do povo da Alemanha tornou possível o que a economia e alguns políticos viam como impossível. Quando há uma vontade encontra-se sempre um caminho. A lição alemã mostra que quando o povo acorda as coisas se mudam, tornando-se possível o que se apregoa como impossível. A natureza e os pobres sofrem mais porque por todo o lado o povo continua a dormir e descansado com os analgésicos que a opinião publicada lhes injecta.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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