Presentes de Natal – Uma Tradição a Descobrir

Significado dos Presentes

A tradição dos presentes de Natal assenta na recordação dos reis magos que oferecem ao Menino ouro (símbolo da fé), incenso (símbolo da adoração a Deus) e mirra (símbolo da transitoriedade e da eternidade). O texto de Mateus descreve o ritual dos reis magos que seguem a Estrela de Belém para adorarem o rei dos judeus. Já então toda a terra olhava para Belém. Até o próprio Buda já tinha previsto a era cristã. Seiscentos anos antes Buda disse para o seu discípulo Ananda: “Quinhentos anos, Ananda, quinhentos anos existirá a doutrina da verdade. Então diminui a fé até um novo Buda aparecer e, de novo, colocar em movimento, a roda da doutrina da verdade”. Interessante é o facto de, além do Antigo Testamento, também Zaratrustra ter preanunciado a vinda dum salvador.

No centro do acontecimento natalícia estava a celebração da missa do galo. Com o tempo foi-se estabelecendo o costume de oferecer presentes aos pobres; já na Idade Média os patrões ofereciam, pelo Natal presentes extra, como roupas, aos seus criados. Assim se recordava os começos simples de Jesus e se fortaleciam os laços entre servidores e servidos. Os presentes eram dados aos necessitados e às crianças.

Desde o século 19 foi-se impondo a tradição de se dar um ordenado extra aos trabalhadores, no mês do Natal. Daí surgiu o décimo terceiro mês de ordenado.

Só a partir dos meados do século XX se alargou a tradição de os adultos se fazerem ofertas natalícias uns aos outros. O aumento do bem-estar económico e a infantilização da sociedade terão sido os motivos base desta inovação, segundo a opinião de especialistas. Entretanto o comércio apoderou-se do acontecimento tornando-se ele no maior prendado.

Antes já era motivo de grande alegria uma mesa bem recheada, e se algum desejo mais havia era o de uma caneta para a escola ou um fato novo para estrear…

Quando eu era pequeno, lá no vale de Arouca, ainda era o menino Jesus que trazia os presentes pela chaminé e os colocava nos sapatos, nesse dia colocados à lareira. A nossa fantasia de criança andava toda ela numa ansiedade excitada, numa alegria prévia do que o Natal nos tinha para dar. Era um acontecimento que envolvia desejos de crianças e planos de adultos, num irmanar de esperanças comuns.

Como referia, naquele tempo ainda era o Menino Jesus, pessoalmente, que colocava as prendas no sapatinho. Mais tarde eram postas na árvore de natal. Entretanto os presentes tornaram-se tantos e tão grandes que se passou a colocá-los debaixo da árvore de natal. O presépio e a árvore de natal permanecem enfeitados até à festa dos Reis, a 6 de Janeiro.

Hoje as pessoas já têm tanta coisa supérflua que se torna numa cruz a escolha duma oferta no carrossel dos desejos sempre mais passageiros tal como o gozo que os acompanha. Actualmente, apesar da enxurrada das prendas, o prazer da criançada não é maior do que a alegria das crianças de outrora, pelo contrário…

A oferta tem o seu valor em si, revela a amizade do dador e o desejo de fortalecer e manter as relações. O acto de oferecer implica a ocupação e preocupação com e pelo outro. A oferta fala do prendador e do prendado. Também nela se podem esconder preconceitos. As crianças oferecem de boa vontade sem olharem ao preço, o que conta é o gesto. O dar fortalece também a autoconfiança, a auto-estima, além de fomentar a benevolência e a gratidão. “Dar é melhor que receber”, diz a Bíblia. Por detrás da oferta está também a elevação do próprio estatuto.

A prenda é um símbolo da amizade, do amor e quer testemunhar proximidade. Naturalmente que os melhores presentes são as prendas que não prendem…O presente também pode ser um acto de suborno ou de hipocrisia. Facto é que o presente, além de querer mostrar reconhecimento, mantém o dador na memória. Pelo menos ao limpar-se o pó recorda-se o doador.

A tradição das prendas é um costume muito positivo. Com uma oferta constroem-se pontes.

Como ritual tem a vantagem e a desvantagem inerente aos rituais, mas sem os quais a vida deixaria de ser humana.

Oferecer não constitui obrigação mas obriga a uma reciprocidade. Seria uma afronta não aceitar um presente.

Quando se tem tudo fica a satisfação do outro ter pensado em si e a gratidão. As prendas tornam as pessoas gratas e activam a memória.

É um bom costume, especialmente na época natalícia, não só a consciencialização da necessidade do outro, com o costume caritativo de se recolherem dádivas para os mais necessitados. Este foi o início da solidariedade social. Apesar dos perigos inerentes a qualquer acto humano e ao alarido dos Velhos do Restelo em relação ao Natal, há muito bem partilhado nesta época natalícia.

Donativos, dádivas não são presentes porque não têm como objectivo fomentar uma relação, demonstram porém o sentimento de pertença noutras esferas do ser e do estar aqui.

O costume de se fazerem presentes testemunha uma acção cultural nobre que tem como pressuposto uma consciência profundamente humana baseada na necessidade de se relacionar.

Com o Natal, o relacionamento ganha uma qualidade nova.

António da Cunha Duarte Justo

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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