A tradição portuguesa do fogo de S. Silvestre não justifica foguetes barulhentos

Fogo-de-artifício sem Barulho por Amor aos Animais

António Justo

Na passagem do ano, S. Silvestre, segundo as companhias de seguro alemãs, dão-se cerca de 12.000 incêndios por ano com um prejuízo de vinte e nove milhões de euros (isto na Alemanha).

Os alemães, na continuidade da tradição de antigas crenças germânicas, gastam, na festa da passagem do ano, cerca de 120 milhões de Euros em fogo-de-artifício.

Os fogos-de-artifício, segundo crenças animistas, com barulho e luzes, tinham a função de expulsar os “espíritos do mal”; hoje exprimem a alegria ansiosa do povo pelo novo ano. A garrafa de champanhe também testemunha isso em muitos lugares.

A festa também faz parte da nossa vida e tem um custo que não tem preço. Também é interessante verificar que, geralmente, nos bairros mais pobres das cidades, se observa mais brilho no ar.

O barulho do fogo na noite incomoda, não só bebés mas também, além de outros, pessoas com necessidade de repouso.

A mim dão-me pena, especialmente, os passarinhos, gatos e cães que, indefesos, não podem compreender o sentido de tanto barulho nem da festa.

Por isso seria de recomendar, a quem quiser manter a tradição, que o faça com fogo-de-artifício sem barulho, como recomenda a lenda portuguesa.

Naturalmente que a festa ainda seria mais completa, se, parte do dinheiro reservado para os foguetes, fosse aplicado em dar alegria a algum vizinho necessitado.

A Referência portuguesa da tradição do fogo-de-artifício na passagem do ano

O lançamento de fogos-de-artifício, na noite de S. Silvestre ou passagem-do-ano, tem uma nuance portuguesa que a liga a uma lenda sobre Nossa Senhora e S. Silvestre. Segundo relata a wikipedia, nessa noite, a Virgem estaria inconsolável e muito triste a olhar para o oceano atlântico quando se aproximou dela “São Silvestre e tentou consolá-la. A Virgem explicou-lhe que estava com saudades da antiga Atlântida e então o santo disse-lhe que deviam fazer algo de alegre que ficasse na memória dos homens. Então a Virgem chorou e as suas lágrimas transformaram-se em “pérolas” no oceano, uma das quais foi a ilha da Madeira, a “pérola do Atlântico”; ao mesmo tempo, apareceram no céu lindas luzes, segundo o testemunho dos antigos”.
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu

Estimadas leitoras, prezados leitores!
Saúde, paz e alegria e Votos de um Feliz 2015 ainda melhor que o 2014!

2014 O ANO DA VIRAGEM PARA O INCERTO – UM ANO DE CRISES MÚLTIPLAS

Guerra na Europa – Terrorismo do Estado Islâmico pior que o Nazismo

António Justo
Se passarmos em revisão o ano 2014 notaremos que foi um ano de surpresas e mudança. A guerra também voltou à Europa.

Neste centenário da primeira guerra mundial com 18 milhões de mortos dá-se início aos vícios do século XX: Kiev, Krim, o inferno da Síria e do Iraque são o melhor exemplo disso e preparam uma nova era também na cena política internacional. Países fronteiriços da Rússia revelam-se como palco para motejo entre a Rússia e o Ocidente.

No Iraque e na Síria instala-se um estado de terror ainda pior que os de Hitler e de Estaline. Fenómeno novo preocupante e indicativo da globalização do terrorismo revela-se o facto de os terroristas islâmicos serem recrutados também das cidades de Estados de direito como a UE.

A Turquia (membro da nato) torna-se mais islamista e dá cobertura ao terrorismo sunita na Síria e no Iraque, a que os curdos resistem com a esperança de a História lhes vir a fazer justiça e lhes reconhecer posteriormente o direito à sua nacionalidade, ao estado do Curdistão. (Este será o próximo conflito!). A política internacional aceita a destruição de um estado antes multicultural como era a Síria, e em conivência com a facção muçulmana sunita (turca e saudita) contra a facção xiita (iraniana) aceita dividir a região em território sunita e xiita deixando também o problema do Curdistão para as calendas gregas. O ocidente apenas reage mas sem um conceito integral; a liga árabe não está interessada em consenso. A ONU reflecte a divisão dos estados e dos interesses.

A Alemanha prefere dedicar-se ao negócio económico e falar da solidariedade dos outros países europeus no que toca à distribuição dos refugiados. Entretanto cresce na Alemanha o desejo de participar mais activamente nas intervenções militares de conflitos mundiais. Isto significará o acréscimo de poder também militar não só da Alemanha mas também da Europa. Em 2014 cria-se a necessidade de intensificar o armamento. A Alemanha inicia uma nova política e a NATO forma uma nova tropa de reacção; a polícia e os serviços secretos de informação preparam-se para piores tempos ao constatar o terrorismo extra e intra muros. Por isso a Alemanha cala os casos de espionagem dos EUA na Europa.

O apoio russo aos separatistas do leste da Ucrânia (invasão) e a sua anexação da ilha krim na Rússia criam uma nova situação na Europa. A Ucrânia que tinha entregado as armas nucleares à Rússia em 1994 pensava, com isso, adquirir a sua independência e integridade territorial. A Rússia sente-se ferida nos seus interesses fronteiriços com a NATO e parece encetar um caminho imprevisível.

Sansões contra a Rússia provocaram uma crise económica na Rússia com consequências negativas também para a economia ocidental.

Putin considera a queda da União Soviética como “a maior catástrofe geopolítica do século XX”. Não aceita que as fronteiras da NATO se tornem as fronteiras da Rússia, o que vai levar a NATO à corrida às armas. Um caso bicudo de resolver também devido à falta de entendimento entre os países europeus.

Os EUA espionam os amigos, porque consideram prioritários os interesses políticos, económicos e de defesa. A crise da UE vai-se arrastando.

Milhares de refugiados da guerra e da miséria morrem no mediterrâneo e muitos milhares encontram refúgio entre nós.

A sociedade não se encontra preparada sequer para reconhecer os perigos e conflitos que ela mesma anda a chocar. Tem medo de imaginar e analisar cenários possíveis porque muita da nossa inteligência política foi formada numa mentalidade polar ou da guerra fria.

Os cristãos tornaram-se nas maiores vítimas da modernidade; em cada cinco minutos que passam é morto um cristão. Hoje tornou-se moda atacar os cristãos. Até quando surge um comentário sobre o terrorismo árabe logo surge uma resposta desculpante ou desviadora do assunto para canto, com o argumento de que os cristãos também já perseguiram com a inquisição ou caça às bruxas. 400 milhões de cristãos encontram-se ameaçados e 100 milhões sofrem violência directa (massacres, aprisionamento, marcação das casas onde vivem cristãos com o nome nazareno, pagamento do imposto de cabeça – por cristão, como era costume durante a ocupação muçulmana da Península Ibérica, etc.) . As igrejas do ocidente não reagem porque se encontram preocupadas com problemas de umbigo e sob o pensar correcto que domina a imprensa e a política ocidental.

O Ano 2014 não será para esquecer pelas consequências das tragédias nele iniciadas ou acentuadas a nível internacional.

Portugal encontra-se ainda em estado de excepção dado estar submetido a um regime especial de poupança; a confiança do cidadão na política está de rastos, o combate à corrupção encontra muita resistência por parte de poderes enredados e instalados.
2015 não parece prometer muito, resta-nos a esperança.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu

FÉ É A ENERGIA DO ENCONTRO

Sem a Fé religiosa  nem a Teoria científica o Mundo viveria às Escuras

António Justo
O céu da noite, tão ordenado e tão brilhante, tão profundo e tão convincente, não deixa dúvidas acerca de dona de casa tão esmerada.

Bate-se à porta. Ninguém responde, apenas um rasto de luz na fechadura da razão. Não se trata de encontrar nem de explicar a existência da Dona mas de permitir a dúvida que possibilita o salto no mistério. Sem a fé religiosa nem a teoria científica continuaríamos a viver na idade da pedra. Fé e teoria possibilitam o salto para o Outro, para o diferente, para o próximo. A certeza é a fronteira do desenvolvimento e do saber!

O facto de se querer explicar tudo, não significa que tudo seja explicável. A auto-organização da natureza e da sociedade incluiu nelas a fé. A fé humana tal como a fé “física” da natureza proporcionam a ordem e a evolução.

A ordem divina não conhece a submissão, Deus mostra-se supérfluo, tal como a força que tudo puxa no sentido da evolução. Tudo se encontra na mesma sombra à procura da Luz que o sustenta. A natureza, a fé, a ciência não fazem mais que seguir a chamada do Outro que escusa os olhos porque só feitos para distinguir a diferença entre as sombras.

Crenças, teorias e saberes correspondem ao tecto que os olhos possibilitam ao olharmos para o céu. A direcção determina a vista. Lembra o embrião na procura da luz, ou a criança a correr para os braços da mãe.

A alternativa Deus ou o Nada é um problema existencial porque ao decidir-me por Deus afirmo a ordem, ao afirmar o Nada resta o caos niilista. Dietrich Bonhoefer: „Einen Gott, den es gibt, gibt es nicht” = „um Deus que existe, não há“. Bonhoefer tem razão porque um Deus a existir seria reduzido à vertente do criado, a uma lógica causal que nem sequer satisfaria a razão que é a mãe das lógicas; Deus é mais que a existência, é acontecer na relação experiencial, é o encontro a brilhar no canto da fé. Aqui, Deus é encontro de Terra e Céu como revela a sua síntese em Jesus Cristo.

Deus não se prova, para o provar precisaria de uma inteligência igual ou superior ao que se pretende reconhecer, pressuporia uma inteligência divina, uma inteligência que apesar de grande o reduziria ao conhecível, ao visível pela nossa fita métrica da razão como se Ele se pudesse tornar quantificável.

Como poderia o saber desconhecer que não pode saber senão o que pode aprender? Como poderia a bilha do oleiro falar do ser do oleiro, quando é apenas um seu vestígio?
Na minha praia batem ondas de praias desconhecidos que me dizem baixinho que o que me resta é descobrir-me e que sem o abismo do mar e o marejar de outras costas nunca olharia para cima, para as nuvens no céu, para o cume das montanhas, para o seu cimo em mim.
Na desilusão e na vingança do nada tornamo-nos consumidores de nadas que o dinheiro arrasta. No reconhecimento do cristianismo pode esconder-se o eurocentrismo mas a realidade é que a natureza se organiza em sistemas como o sol que tudo une e ordena.

As crenças possibilitam ordens sociais; só a análise e estudo comparativo das ordens sociais poderia dizer algo objectivo sobre o seu Deus e o seu texto nas religiões. Mahatma Gandhi constatava: “Cristo é a maior fonte de força espiritual que a humanidade conheceu“.

No universo ouvem-se as dores do parto cósmico e o ser humano sofre-as nele. A singularidade divina reflecte-se na estranheza do mundo que ecoa no fundo do nosso ser.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo
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Pactuar com a Tortura é pactuar com o Diabo

António Justo
Os EUA tiveram a força moral de manifestarem em relatório público a descrição pormenorizada da sua má conduta para com prisioneiros depois do atentado de 11.09.2011. A CIA argumentou que a tortura da água e da retirada do sono empregadas levou a confissões que impediram outros atentados e terão ajudado a descobrir o paradeiro de Osama Bin Laden, o inimigo número 1 dos EUA.
Este proceder, além de reprovável é um mau exemplo para Países sem Estado constitucional. O mau comportamento americano serve, por vezes, de cobertura e desculpa para estados onde a mentira e o mal são razão de Estado.
Pactuar com a Tortura é pactuar com o Diabo, dizia um jornalista alemão. Os fins não podem justificar os meios nem inflacionar as altas guias éticas ocidentais.
Já em 1700 Frederico o Grande ordenava que, em interrogatórios policiais, não houvesse tortura, excepto para “grandes assassinatos”. Entretanto os nossos Standards éticos evoluíram. Precisa-se de um jornalismo crítico e atento para que o Estado considere a dignidade da pessoa humana como o maior bem. Por todo o mundo grassa a raiva indomável. Se os Estados não lhe colocam entraves continua a acontecer também o que ontem relatava a Fundação AIS, isto é, em cada 5 minutos que passam é assassinado um cristão no mudo por motivos de ser cristão e no Iraque e na Síria são assassinados cristãos e muçulmanos, onde até é proibida a música e rir alto. Os Estados toleram ou fomentam activamente a violência no seu seio e nas instituições. Acima das instituições, sejam elas políticas, religiosas ou económicas está a pessoa.
António da Cunha Duarte Justo
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Asilo político – Fugitivos para quem a última Âncora de Refúgio são as Igrejas

Igrejas alemãs continuam a Tradição de Lugares de Refúgio

como na Idade Média

António Justo
Muitas igrejas na Alemanha tornam-se em lugares de refúgio temporário para solicitantes de asilo ameaçados de deportação (casos humanitários excepcionais ameaçados de expulsão, por vezes os “casos-Dublin” – requerentes que vieram através de outros estados europeus e cujo processo deveria ter sido feito no primeiro país de chegada e como tal sem direito a refúgio no segundo país de chegada, a não ser que se encontrem há mais de 6 meses na Alemanha)…

Na minha região de Kassel há 11 paróquias evangélicas que albergam 15 refugiados e duas paróquias católicas com famílias que tacitamente albergam para não entrarem em conflito com as autoridades civis.

Dar guarida a fugitivos é tradição das igrejas mas não sustentada pelo actual direito civil. As autoridades respeitam a ilegalidade deste proceder não indo buscar ninguém aos espaços da igreja para a deportação. As igrejas acolhem e ajudam os refugiados independentemente da sua crença. A responsabilidade e manutenção pertencem à comunidade paroquial. As igrejas não questionam o direito único do estado, preocupam-se e intervêm em casos individuais quando reconhecem perigo de vida ou o ferimento de direitos humanos (muitas vezes uma pausa de reflexão para as autoridades civis!). Os refugiados não podem abandonar os espaços da igreja. As autoridades têm tolerado o asilo na igreja. Até hoje os refugiados na igreja conseguiram ser reconhecidos posteriormente pela lei estatal. Aqui temos um exemplo de como a relação entre Estado e Religião funciona no sentido de uma sociedade mais humana em que a lei, por vezes não discrimina casos especiais.

As exigências de hospitalidade do Novo Testamento, (Mt 25,35ff; Rom 0:13; Heb 13,2; 1 Pedro 4.9), obriga os cristãos a dar guarida a quem procura protecção legal junto deles, independentemente de raça, religião ou cor. Já antigamente, servos que se sentiam maltratados pelo senhor conseguiam, por vezes refúgio nos conventos, até encontrarem um senhorio mais humano.

Também Maria e José se refugiaram numa gruta onde nasceu Jesus. Andaram por terras do Egipto para escaparem à perseguição, assim reza a alegoria elucidativa. Já no AT, no Deuteronómio 4, 41 e 42 e em 19, 2 são mencionados lugares de asilo. Na Idade Média a Igreja cria lugares de amor ao próximo (pobres, doentes e estrangeiros) geralmente ligados a um convento. Por decreto imperial foi concedido o direito de asilo temporário nas Igrejas desde que o que procurava refúgio não fosse assassino.

A prática do asilo em igrejas alemãs dá-se discretamente e só em casos humanitários especiais. Assim se serve melhor os requerentes de asilo e não se provoca o Estado.
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu