A NAÇÃO NA HORA DO ARREPENDIMENTO E DA MUDANÇA

Socratismo no Final de uma Era de “Históricos” e seu Compadrio
A Justiça está a mudar de Atitude – Quando começa a Política?

António Justo
Não se pode ter uma justiça açaimada toda a vida… Mas a boa vontade da Justiça fica de mãos atadas e de olhos vendados, se a Política não tiver boa vontade e coragem de criar legislação bem vedada que não permita fugas para a corrupção.

A doença do socratismo, um misto de distúrbio bipolar e de Bordaline, como durante a sua regência escrevi, é o resultado de um modo de vida individual e nacional generalizado… (A sua repressão sobre jornais, licenciatura, Freeport, destruição das escutas, nacionalização do BNP e influência em todos os outros com excepção do BPI só podia ser efectuada sob influxo de outros ‘Boys’). Quem acusa os Media, de revelarem o que não deviam, vive ainda no mundo socratista, é renitente e não quer evolução. Sem informação política aberta, o público não pode julgar, ou vai julgando conforme o que se lhe vai disponibilizando.

O fenómeno Sócrates foi possível porque as nossas instituições o geraram, porque muitos dos seus comparsas não eram seus amigos mas sim amigos da onça. Não o ajudaram então com a crítica amiga que precisava e agora saem para o adro da nação com o guarda-chuva do “rogai por ele” que não passa de um “rogai por mim” discreto, enquanto, na procissão, o povo continua à chuva.

Chegou a hora de ganhar o pão com honra e com o suor do próprio rosto tal como faz a maioria do povo

Em eras passadas, a burguesia sofria de corrupção passiva enquanto a classe do 25 de Abril e da EU sofre de corrupção activa, mais motivada e fundamentada em ideologias e nas finanças do que no Homem e na economia real. Por isso é uma corrupção ilimitada destruidora da pessoa e das mais venerandas instituições. A corrupção passiva é como as bactérias que podem ser atacadas com antibióticos, a corrupção activa é como os viros, não tem cura, não há antibióticos para tal, alastra se não se isola.

Portugal encontra-se no mar alto; esta não é a hora de se comerem uns aos outros, mas sim de despejar ao mar a carga da corrupção que o sistema leva a bordo. A Justiça parece começar a ganhar coragem. Os partidos precisam de se purificar e o povo necessita de ganhar força para Portugal estar preparado para tomar decisões arrojadas numa altura em que a EU e os USA se preparam para neutralizar a voz da democracia, com a voz dos do grande capital internacional, no acordo em preparação APT ou TTIP. Só um país sério terá autoridade para se opor à corrupção em preparação nos núcleos do poder mundial.

Para quem tudo é relativo, não há verdade que o sustenha, dado a escuridão da mentira passar a cobrir a verdade. A oligarquia política não pode continuar a abusar do Estado de Direito; seguir a marcha até agora percorrida é destrui-lo.

Esta seria a hora do arrependimento e da mudança nos Meios de Comunicação Social

O andor, da história da moral e da política, tem sido transportado por muitos imorais. Como nos finais do império romano, também hoje continua a ser condenado Cícero para se manterem os Catilinas demagogos, os pára-costas dos grandes núcleos do capital internacional que procuram minar a autoridade dos Estados e o poder das democracias. Também os Media têm de se purificar para que os Catilinas desonestos não encontrem amplificação na opinião pública.

Para o jornalista José António Saraiva, director do Jornal SOL, José Sócrates é ‘o Vale e Azevedo da política’; pelo que investigou, José Sócrates controlava o grupo RTP do Estado, influenciava a Controlinvest que inclui o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias, a Máxima e a TSF e mantinha “relações estreitas” com a Ongoing detentora do Diário Económico; fez a tentativa de compra do “grupo TVI” que tem a Lux e a Rádio Comercia. “Só fugiam ao controlo do Governo o grupo Imprensa, liderado por Balsemão, e o grupo Cofina, de Paulo Fernandes.” Sócrates tentou fechar o SOL (através do BCP accionista do jornal) que tinha denunciado os casos Freeport, Face Oculta e Tagusparque. Se não fosse a ruína das contas do Estado e a ronda da Troica o homem poderia vir a conseguir tanto poder como Salazar.

Quase não há um jornalismo investigativo e quando o há, como no caso do jornal Sol, recebe insultos e perseguições… No 25 de Abril, jornalistas foram saneados e foram instalados outros conformes ao sistema mas, como se vê, prejudicando o Estado e a nação. Os corruptos do poder contagiaram a TV e outros Media. Como podem pessoas com ordenados corruptos informar objectivamente sobre corruptos e sobre corrupção?

Esta seria a hora do arrependimento e da mudança na política

Tocaram no nervo da nação. Os partidos deviam aproveitar a ocasião para chamar a contas os membros abusadores. Portugal precisa de todos os partidos mas, então, defenda-se o partido mas não a corrupção, nem tão-pouco os seus oportunistas, e os que abusam dele! O que está em causa são as instituições que produzem tais corruptos; quem os defende não quer bem ao partido. Falta visão e capacidade crítica! Se alguém toca nos interesses dos amiguinhos é logo olhado de lado e condenado ao ostracismo. Portugal chegou onde se encontra devido a uma inteligência facciosa condicionada ao oportuno e aos amigos! Um impedimento à mudança está no facto de muitos que beneficiaram do sistema ou do partido dão preferência à amizade dos amigos  procurando defendê-los mesmo à custa dos prejuízos de uma nação, levada à bancarrota por amigos e inimigos. Para uns e outros a nação e o povo não conta.

Precisa-se de uma outra forma socialista de ser e de estar, precisa-se de uma outra forma de ser e de estar da social-democracia e de outros partidos. Urge uma democracia atenta e viva que exorcize os demónios que o regime produziu.

O PS português nunca teve tanto poder na sua mão como na era de Sócrates. Os resultados mostram que em Portugal se torna perigoso um governo de maioria absoluta.

Esta seria a Hora do Arrependimento e da Mudança na Mentalidade do Povo

Um país cego e surdo-mudo, deixou-se iludir e agora sofre de desmame. Depois da bebedeira, encontra-se em ressaca. A ilusão não suporta a desilusão de não poder olhar para a as estrelas que não quer cadentes. Muitos, não interessados no desmame, para desviarem as atenções da droga do próprio partido (à imagem de Soares), querem dar a culpa ao Juiz…. O que é motivo de crítica para uns é motivo de defesa para outros, a corrupção não conhece outras alternativas.

A sabedoria popular revela uma certa propensão para a corrupção, na maneira como, quase com afecto e compreensão, repete: “Quem parte e reparte e não fica com a maior parte, ou é tolo ou não tem arte”; outro provérbio popular do género: “Ladrão que rouba a ladrão tem 100 anos de perdão”. Pelos vistos esta “sabedoria” é ancestral. Uma doença crónica torna-se muito difícil de curar.

No meio de tudo isto, o povo também não pode levantar muito a cabeça dado ter-se comprometido nos desvios de fundos europeus que se destinavam à formação profissional e em que os organizadores dos cursos, elaboravam listas de presenças falsas, com nomes de povo, para, em vez de darem as aulas de formação, arrecadarem o dinheiro sem ter prestado serviço.

Urge superar o estado de uma nação traumatizada, sempre a olhar para o lado com medo de falar, não seja o caso de estar o amigo concorrente perto. A tarefa é séria, embora se não impossível, difícil. Trata-se de restabelecer a dignidade da pessoa, das instituições e do Estado.

António da Cunha Duarte Justo

Jornalista
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O Papa falou à Consciência dos Deputados do Parlamento Europeu

A EU precisa de um Enquadramento que “faça prevalecer a Lei sobre a Tirania do Poder”

António Justo
A Europa encontra-se à disposição de um capitalismo feroz e de ideologias que não respeitam a dignidade humana nem as nações. Neste contexto, Francisco I veio falar à ágora da Europa onde não faltam os vendilhões.

Ontem (25.11.2014), o Papa falou em Bruxelas aos 751 deputados do parlamento europeu que representam mais de 500 milhões de cidadãos.

Referiu-se, indirectamente, ao perigo dos acordos (TTIP) que estão a ser preparados entre a EU e os USA; estes constituem um atropelo aos países membros que passarão a ser economicamente controlados por poderes económicos e burocráticos internacionais sem que o Estado possa intervir. Seria fatal uma dupla moral que traz na boca a solidariedade europeia mas cede às multinacionais privilégios e direitos que deveriam ser inalienáveis do povo. De facto, as democracias encontram-se ameaçadas pela “pressão de interesses multinacionais não universais, que as enfraquecem e transformam em sistemas uniformizadores de poder financeiro ao serviço de impérios desconhecidos. Este é um desafio que hoje vos coloca a história.”

A dignidade humana encontra-se ameaçada pela discriminação e por interesses económicos desmedidos. “Que dignidade é possível sem um quadro jurídico claro, que limite o domínio da força e faça prevalecer a lei sobre a tirania do poder?” Apelou à solidariedade e subsidiariedade.

Uma Europa que obriga os jovens a prepararem-se para o trabalho até aos 18 – 25 anos e deita ao abandono 6 milhões de jovens desempregados, perde o crédito, ao deixá-los à porta da sociedade e da vida, sem trabalho nem perspectiva. Daí, para o Papa, a urgência de se “promover as políticas de emprego” e a necessidade de “ devolver dignidade ao trabalho” pois «quanto mais aumenta o poder dos homens, tanto mais cresce a sua responsabilidade, pessoal e comunitária».

Francisco verifica que a Europa se tornou um continente cansado e envelhecido: : “De vários lados se colhe uma impressão geral de cansaço e envelhecimento, de uma Europa avó que já não é fecunda nem vivaz”. A EU tem vindo a ceder os seus ideais ao “tecnicismo burocrático das instituições”, tem criado estilos de vida caracterizados pela “opulência indiferente ao mundo circunstante”. “O ser humano corre o risco de ser reduzido a mera engrenagem dum mecanismo que o trata como se fosse um bem de consumo a ser utilizado, de modo que a vida – como vemos, infelizmente, com muita frequência –, quando deixa de ser funcional para esse mecanismo, é descartada sem muitas delongas, como no caso dos doentes terminais, dos idosos abandonados e sem cuidados, ou das crianças mortas antes de nascer.”

A Europa está velha porque alberga muitos Junckers, Sócrates e oligarcas sem alma europeia. Francisco I sofre com o desmoronamento duma Europa que, com uma política que endurece na elaboração de regras, não se preocupa seriamente com o futuro, perdendo os seus ideais em favor da burocracia e do mercado. Criticou o pensar consumista e egoísta que se espalha como um nevoeiro pela Europa.

Admoestou os países ricos, criticando o curso de poupança da Troica que castiga especialmente os países do sul, tendo o problema surgido do fomento da flexibilização de um mercado liberal que “não respeita a estabilidade nem a segurança das perspectivas de trabalho”.

Solicitou mais solidariedade com os refugiados. É um escândalo ver-se o Mediterrâneo transformado num cemitério para muitos que procuram refugio. O problema da migração tem de ser resolvido em conjunto questionando assim as Directrizes de Dublin.

“Uma das doenças que, hoje, vejo mais difusa na Europa é a solidão, típica de quem está privado de vínculos”. “Vemo-la particularmente nos idosos, muitas vezes abandonados à sua sorte”, bem como nos “jovens privados de pontos de referência e de oportunidades para o futuro; vemo-la nos numerosos pobres que povoam as nossas cidades; vemo-la no olhar perdido dos imigrantes que vieram para cá à procura de um futuro melhor”. Os deputados também devem: “cuidar da fragilidade dos povos e das pessoas” e estarem atentos à «cultura do descarte» e do «consumismo exacerbado».

Falou também do abandono a que a política deitou as “minorias religiosas, especialmente cristãs, em várias partes do mundo. Comunidades e pessoas estão a ser objecto de bárbaras violências: expulsas de suas casas e pátrias; vendidas como escravas; mortas, decapitadas, crucificadas e queimadas vivas, sob o silêncio vergonhoso e cúmplice de muitos.”

Apelou para a importância da defesa da ecologia e da natureza de que somos “Guardiões, mas não senhores. Por isso, devemos amá-la e respeitá-la; mas, «ao contrário, somos frequentemente levados pela soberba do domínio, da posse, da manipulação, da exploração”; a par duma ecologia ambiental, é preciso a ecologia humana, feita do respeito pela pessoa.

Resumiu o ideal europeu recorrendo à seguinte imagem: “Um dos mais famosos frescos de Rafael que se encontram no Vaticano representa a chamada Escola de Atenas. No centro, estão Platão e Aristóteles. O primeiro com o dedo apontando para o alto, para o mundo das ideias, poderíamos dizer para o céu; o segundo estende a mão para a frente, para o espectador, para a terra, a realidade concreta. Parece-me uma imagem que descreve bem a Europa e a sua história, feita de encontro permanente entre céu e terra, onde o céu indica a abertura ao transcendente, a Deus, que desde sempre caracterizou o homem europeu, e a terra representa a sua capacidade prática e concreta de enfrentar as situações e os problemas.”

Recordou que o que gera a violência não é a glorificação de Deus, mas o seu esquecimento». Deus preserva-nos do domínio das modas e dos poderes do momento.
Recordou também um autor anónimo do século II que escrevia: «os cristãos são no mundo o que a alma é para o corpo».

Chegou a hora de construirmos juntos a Europa que deve girar, não em torno da economia, mas da sacralidade da pessoa humana e dos valores inalienáveis. Concretizando: precisamos de uma nova geração de políticos e de executivos que não se tornem pastores dos lobos mas que defendam as ovelhas dos lobos!
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
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JOSÉ SÓCRATES O BERLUSCONI PORTUGUÊS?

 O caso insólito de uma Nação inteira em Orgasmo fora do Lugar

António Justo
José Sócrates – o Berlusconi português – parece um figo maduro a gingar na figueira 25 de Abril. Esta tem muitos outros figos prontos a cair e outros ainda a amadurecer, neste jardim outonal de brandos costumes “à beira mar plantado”. Será que Portugal se quer restabelecer? Por enquanto, ainda se encontram muitos outros figos melados bem agarrados à figueira já murcha por tanto chupar e pela já sumida terra do jardim. Mas Portugal se se quer salvar por algum lado há-de começar.Do húmus dos figos caídos talvez a terra se torne fértil.

O Ministério Público na sequência de investigação de casos de crimes de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais mandou deter, José Sócrates (ex-primeiro ministro) para interrogatório judicial, e também um sujeito ligado ao grupo Lena, outro à empresa de Carlos Santos Silva e um outro representante da empresa multinacional farmacêutica Octapharma, de que José Sócrates é empregado desde 2013, segundo informou o jornal Sol.

Muitos “inocentes”, ficaram escandalizados pelo facto de Sócrates ter sido preso no aeroporto de Lisboa às 22H, à chegada de Paris, e lá já se encontrarem as câmaras de TV, caso que os leva a especular sobre “fugas de informações”.

Fuga de informações?! Quando é que as não houve em Portugal? Isto parece conversa encomendada para desviar do assunto principal (a corrupção institucionalizada) para coisas marginais. A opinião pública portuguesa é geralmente encharcada com coisas que falam ao coração para desviar da mente e assim desobrigarem a atenção duma corrupção tanto da esquerda como da direita mas que se quer manter anónima nas caves da nação. Também a justiça e os órgãos do Estado precisam do folclore das detenções para se irem safando; a corrupção também banha as suas praias; não vivêssemos nós num Portugal tão pequenino de amigos e vizinhos.

Também se fala de “Justiça versus Política”! Isso também não, nunca houve; o que sempre houve foi uma política telenovela para o povo português e muitíssimos mações e amigos bem posicionados também na justiça que bem sabem contribuir para a desinformação. Justiça atenta à política seria completamente impossível, no nosso Portugal moderno, atendendo à actividade da maçonaria (de timbre inglês e francês) e outras forças, fomentadoras da promiscuidade política, financeira, dos Media e da Justiça, que manobram a partir de um Portugal subterrâneo, onde se encontram em erupção, desde as Invasões Francesas.

O problema da interferência e conivência entre os poderes é já antigo, é um legado republicano que vem não só da politização da justiça mas da “judicialização” da política que se deve a um Estado minado por organizações fortes, num país pequeno onde todos os grandes se conhecem e se julgam ser a casa do povo de um país ordinariamente partidarizado porque despolitizado. Defender uns para atacar outros implicaria reduzir a questão à alternativa: Lúcifer ou Belzebu; o que significaria continuar a fomentar um pensar bipolar que leva a pactuar com a corrupção!

A Democracia portuguesa está já saturada de corrupção; é de recordar, entre outros, os casos dos diamantes em torno de Soares, dos projectos para um novo aeroporto, das parcerias público-privadas (PPP), da Casa Pia, dos Submarinos, dos vistos gold, de José Sócrates, etc.; tudo deu em águas de bacalhau; tudo isto revela apenas a ponta do icebergue, num Portugal de esquerdas que se tornaram milionárias quando queriam acabar com as direitas milionárias.

Chegou a hora em que seria óbvio salvar a honra da República e devolver a dignidade ao povo, deixando de continuar a pensar apenas no tradicional sistema bipolar. Seria chegada a hora de saudar e apoiar as forças do Ministério Público e de Juízes que mostrem caracter e boa intenção, para que se comece a arrumar com o suborno e a corrupção encostada ao Estado Português; em vez disso enxovalha-se o juiz que precisaria da força de uma opinião pública renovada, para se atreverem a iniciar outros processos. Muitos acólitos dos diferentes senhorios ficam medrosos e logo se apressam a desculpar a corrupção vigente, com o argumento que personalidades do outro partido também são corruptas, segundo a máxima: os meus são ladrõezitos e os dos outros são ladrões. Nesta lógica, do salve-se a ladroeira, legitima-se toda a corrupção e o país em vez de se regenerar continua a masturbar-se, como sempre.

A coragem do juiz poderia ser um sinal de que a honradez e a justiça de muita gente desorganizada mas honrada querem ter palavra em Portugal. Naturalmente, também a Justiça deveria, para se tornar credível, proferir um mea culpa e deixar de se servir de direitos reservados para deputados, secretários de estado e ministros; não o faz porque acima da Justiça imperam certamente outros interesses e outras ordens.

Se o povo não está atento, e não pode está-lo, esta será a hora dos operadores subterrâneos do Estado que desconversarão sobre esta “tragédia pessoal” de grande quilate, de modo a ficar tudo na mesma, com tudo a favor da contínua tragédia de um povo indefeso. Partidarizar o discurso é justificar a corrupção que em Portugal é institucional, como já foi constatado publicamente.

Sem a mudança radical da justiça portuguesa, Portugal não toma emenda. Portugal não tomará emenda enquanto continuar a analisar a sua vida sob as perspectivas partidárias.

A prisão de José Sócrates parece um acto desesperado no sentido de recuperar alguns créditos na confiança popular. Naturalmente, para engavetar este tubarão teriam de engavetar muitíssimos outros e estes não deixam porque são todos amigos entre si e a rede que os assiste foi feita à prova de corrupção. Em Portugal, e em países frágeis, em vez de se engavetar os criminosos engavetam-se os processos.

A questão é de tal modo enredada e a luta das famílias tradicionais e das famílias partidárias é tal, num Portugal pequenino mas dos grandinhos, que não deixa espaço para uma solução satisfatória. Enquanto em Portugal, para se subir, for preciso entrar em instituições parasitas do Estado, não será possível formar-se uma alternativa honrosa.

Sócrates, ex-primeiro ministro português, agora o número 44 da Prisão de Évora, é uma grande oportunidade para toda a nação pensar sobre as razões que levaram Portugal e as instituições portuguesas a chegar ao ponto extremo onde chegaram.
António da Cunha Duarte Justo
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Vistos dourados e a Corrupção que os assiste

Invista um milhão e adquire o direito de residência em Portugal

António Justo
Portugal criou os vistos gold em 2012. Este programa corresponde a semelhantes práticas de outros países europeus.

O regime de emissão de autorizações de residência, para estrangeiros que queiram viver legalmente em Portugal, contempla a concessão ou renovação de “vistos dourados”. A aquisição do direito de residência implica que o estrangeiro faça uma “transferência de capital num montante igual ou superior a 1 milhão de euros, criação de pelo menos 10 postos de trabalho ou compra de imóveis com um valor mínimo de meio milhão de euros” como oficialmente se refere na página: http://www.ccilc.pt/pt/pedido-de-visto-dourado-tem-de-ser-feito-presencialmente-em-portugal#sthash.VUBmpwmq.dpuf

O destinatário do visto de ouro tem de permanecer, pelo menos, sete dias por ano em Portugal. Entretanto já foram concedidos 1.600 vistos no valor de mil milhões de euros, dos quais 972 milhões foram na aquisição de imobiliário.

O visto confere o direito de livre circulação no espaço Schengen. O pedido de visto de ouro tem de ser feito pessoalmente.

No contexto da União Europeia, a medida de introdução dos vistos dourados é boa, porque atrai os investidores a Portugal mas é duvidosa no que respeita à compra de imobiliários. Importante seria investir na produção e não na especulação imobiliária que talvez só venha a favorecer os especuladores do grande capital estrangeiro.

O pedido de vistos dourados é, na sua esmagadora maioria, de chineses, seguindo-se a Rússia, o Brasil e Angola. Chineses compradores exigem às imobiliárias ou mediadores uma espécie de “renda garantida” de 6% a 8% sobre o valor de compra, durante 5 anos. Esta é uma percentagem elevadíssima atendendo à barateza do dinheiro na Europa. Também haverá o perigo de branqueamento de capitais…

O investimento no imobiliário revela-se muito rendoso, a longo prazo, atendendo à facilidade com que bancos da moeda imprimem notas que, cada vez mais, têm um valor quase só virtual. O problema para Portugal vem do facto de investidores internacionais do imobiliário comprarem os objectos mais rentáveis ou servirem-se dos leilões de bancos portugueses que geralmente beneficiam o comprador e não as pessoas hipotecadas (como me confidenciava um amigo com experiência no assunto e metido em assuntos de investimento de capital alemão).

Na sequência de investigações feitas em vários ministérios, contra funcionários corruptos no caso da venda de vistos a investidores estrangeiros, o ministro do interior, Miguel Macedo, tropeçou e caiu. Não podia manter o seu rosto levantado pelo facto de, na sua administração, serem detectados casos de corrupção, entre outros de suborno (cinco dos 11 arguidos ficaram em prisão preventiva, três deles são chineses).

O caso das investigações do Ministério Público a instituições políticas e a órgãos do Estado revela uma boa intenção no sentido de se obstar à corrupção e ao oportunismo vigente especialmente desde o 25 de Abril. O sistema democrático de Abril tem muito a recuperar neste sentido.

O facto de muitos actores do 25 de Abril terem refeito a democracia em Portugal não os legitima a dispor de Portugal nem a usufruir de uma cultura de corrupção por eles urdida.

António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
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À procura do Pai no Universo

A Nave espacial Philae com a Sonda Rosetta “acometa” depois de dez Anos

António Justo
A 13.10.2014 a nave Philae acometou, depois de dez anos de viagem, em Tschuri. O cometa desloca-se a grande velocidade, a uma distância de 5000 milhões de km da Terra.

O objectivo do projecto espacial é analisar a composição do núcleo do cometa, a temperatura, e a natureza do seu solo, para, deste modo, se conseguir informações sobre a origem do sistema solar.

A nave de desembarque Philae (1), como o nome indica, revela o esforço por decifrar o texto do universo, numa tentativa de descobrir a origem do cosmo e da vida.

Como pode a técnica do homem (brinquedo dele), por meio dela, descobrir Deus no seu brinquedo que é o Universo?

O projecto é arrojado; é como tentar encontrar o Espírito divino, no provisório do tempo (no corpo morto de Cristo). A intenção é útil e o projecto também, porque, para lá das diferentes velocidades a que andam as inteligências humanas, o facto reúne-nos a todos no encruzamento do espaço e do tempo, naquele entremeio/intervalo, onde começa o nevoeiro interstelar feito de mistério. Aqui, para lá de constelações e opiniões, encontramo-nos todos no início da mesma viagem.

Na experiência do universo, tal como na da ressurreição, o tempo pára, a vida flui, só se ouvindo o ecoar do divino por todo o universo – um eco no coração do Homem a repetir-se na eterna pergunta: Pai, onde estás?

Na repetição desse eco outros ecos se ouvem no receio de uma resposta órfã vinda da técnica para filhos órfãos, na sombra da vida… Os cientistas permanecem presos em campos magnéticos, em distâncias e em conjecturas que partem de um pressuposto próprio. De facto um deus que se pudesse atingir não seria Deus. O que está por trás de tudo isto e tudo puxa e ordena, não lhes interessa. Cada um, cada criatura encontra o que pretende, parece também isto ser uma lei da natureza. O homem moderno corre o perigo de se dissipar no útil e factual perdendo a capacidade de sentir o pulsar de um poder superior na natureza.

Entre Deus e a sua obra corre o fluido do nada calado, a deixar espaço para perguntas a que o acaso ajuda mas não responde. Onde se encontra o eterno tecelão, que, da sua fantasia, fia a vida com os fios duma ordem misteriosa e perturbadora, de tal modo ordenada que se perde a meta e o sentido?

O desamparo do Homem, na procura do Pai (das origens), gira na órbita entre dúvida e convicção. A decifração da vida precisa não só da luz fria da razão mas também do calor da fé. Doutro modo a vida gelaria ou seria reduzida a um pesadelo num palco obscuro que em vão tentaria coar o brilho do Sol.

Neste mundo tudo gira na procura de uma meta! No emaranhado dos movimentos, a fé gera asas que o ateu não tem. A viagem da sonda Rosetta, materializa a fé da ciência na procura dos sinais da vida, tal como a viagem da fé, na procura do sentido do sentido, tenta dar sentido ao sonho que a vida é.

Todos, no mesmo espaço, viajamos em diferentes velocidades e órbitras mas num sentido comum de um céu estrelado com as energias das leis da física, da moral e da razão, tudo alinhado no seguimento das pegadas do mistério no universo. Todos nós, indivíduos e culturas, estamos na nave Philae.

Cada época, cada cultura, cada pessoa tem o seu centro de gravidade – o seu Sol – em torno do qual giram sentimentos e pensamentos que determinam uma acção própria no decorrer do mesmo empreendimento de desenvolvimento e descoberta.

Philae perdeu as forças, esvaziou as baterias depois de dois dias. Resta-lhe esperar pela luz do Sol que lhe carregará as baterias para seguir a viagem da esperança.

Procuramos nos testemunhos da órbitra do tempo o que se encontra fora dessa órbitra. A procura é para o homem o que é para a sonda a velocidade da nave.

Na vivenda do mundo
A nave Philae
Com coragem vai
Em busca do Segredo
Na Sala de Parto
À procura do Pai!
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu

(1) Pedra de Roseta é um fragmento, em três línguas, descoberto em 1799 no Egipto e que, juntamente com a descoberta de um outro fragmento, na ilha Philae, possibilitou a decifração dos hieróglifos egípcios.