Boas Festas

BOAS FESTAS DE PÁSCOA

António Justo

Boas festas, aleluia

É Páscoa é Primavera

Sol e graça já acenam

Em desejos de alegria

 

O verde, de olhos no céu

Congrega a vida a orar

Na procura do milagre

Da Páscoa a brotar

 

A natura se ergue nas flores

Da seiva rescende o sonho

No aroma das cores

 

É Domingo da ressurreição

Na frescura dos aleluias

O amor enche a criação

 

No ovo da ressurreição

Se esconde a liberdade

Em sonhos de terra germinada

A despertar para a eternidade

 

Boas Festas, aleluia, aleluia!

António da Cunha Duarte Justo

Comunicação Social miserabilista

Informação que apela à Lágrima e ao Sentimento

António Justo

Acabo de regressar de Portugal com uma certa melancolia pela beleza e riqueza dum país que sofre no corpo e na alma como um canino amarrado a uma casota de raposas e predadores. O medo e a raiva assolam um povo a viver cada vez mais na rua, sem poder entrar em casa.

 

O povo ainda anda de pé mas é conduzido pela mão da Troika e de instalados nas diferentes administrações e representações que o conduzem docemente ao curral dos senhores. Muitas pessoas “vivem da mão para a boca” e muitas outras na angústia/revolta perante um Estado que cada vez interfere mais negativamente na sua vida. Apesar da presença de personalidades sociais responsáveis a dignidade humana cada vez é mais ultrajada.

 

Fomenta-se uma mentalidade mafiosa que, a nível de discussão pública, deita achas para a fogueira duma emotividade que ofusca a razão com o fumo de sentimentos difusos que vão da raiva ao desespero e da inveja ao racismo. Um Estado sem rumo próprio segue uma política subterrânea jacobina que ganhou especial expressão em Portugal com as invasões francesas e com o republicanismo.

 

A luz do sol e a alegria de viver encontram-se cada vez mais ensombrados. A falta de esperança leva a dormir e torna-se motivo do não viver.

 

A grande cultura lusa sofre e é depauperada por uma Comunicação Social que fomenta o miserabilismo popular e a leviandade de muitos comentadores cínicos e convencidos que se aproveitam dum certo voyeurismo e de opiniões entumecidas como se opinião e realidade fossem a mesma coisa.

 

Muitos locutores do dia-a-dia agarrados às banalidades noticiosas bombardeiam o povo com ideias, imagens e sentimentos repetitivos lisonjeadores de amigos e desrespeitadores de inimigos. Fomenta-se um pessimismo amedrontador que inibe a própria iniciativa e o espírito de investimento.

 

Como sanguessugas, até os meios de comunicação social nacionais se fixam no negativismo de notícias dirigidas ao sentimento. Quando alguém se enforca logo se juntam os leões e as hienas à volta de imagens e ideias que fomentam a imitação. A TV pública fala de suicídios do foro privado e faz render o peixe, como se se tratasse de suicídios de motivação política realizados dentro da sala do Parlamento. Cultiva-se o extremismo emocional e um voyeurismo que se alonga nos telejornais até às profundezas dos canais de rádio. As coisas são repetidas até à exaustão.

 

Observam-se controlos da ASAE a restaurantes e empresas como se fossem mandatados por estrangeirados sem consciência pela realidade local com um comportamento anti-regionalista ao serviço de interesses centralistas anónimos e antinacionais.

 

Um sistema político servidor de interesses individuais e partidários a nível nacional e de autarquias continua a servir o compadrio da avalanche dos arrivistas criando postos de trabalho na administração quando não há trabalho suficiente para os já empregados. Uma mafia de rosto lavado dos lugares cimeiros de Câmaras e administrações procura desestabilizar os seus subordinados criando um clima de medo, desconfiança e intriga entre os empregados.

 

Arrasta-se o povo para um pessimismo medroso e amedrontador. Num ambiente de tudo contra todos, tudo tem razão, predadores e subjugados; só uma coisa falta: a consciência de responsabilidade nacional.

 

A contestação social mais que objectiva, é, muitas vezes, manipulada por grupos que vivem de mordomias à custa do povo, sejam eles representantes dos trabalhadores ou dos senhores. Um exemplo disto foi a última greve ferroviária que pretende manter bilhetes gratuitos para os familiares dos empregados. Naturalmente que todos os grupos têm direito a defenderem os próprios interesses; o dilema de Portugal é encontrar-se nas mãos duma esquerda intransigente e de senhores e capitalistas sem alma social nem nacional.

 

O último sintoma do estado doentio e depravado de quem tem o dizer em Portugal foi o facto José Sócrates, que deveria estar sob observação judicial, aparecer como candidato a comentador político nos canais da TV pública. Um atrevimento que bradaria aos céus numa sociedade normal! A tal falta de discernimento chegou um povo! A honra dos predadores é legitimada com a desonra da nação. Os interesses partidários afirmam-se mafiosamente sem que haja oposição qualificada. Com esta iniciativa, José Sócrates pretendia aproveitar-se da lorpice da Comunicação Social para se preparar para as presidenciais.

 

No meu belo e inocente país os predadores são os senhores!

 

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@gmail.com

www.antonio-justo.eu

 

Diálogo inter-religioso e intercultural – Um Desafio adiado?

Será que o Islão é agressivo?

António Justo

 

O incremento do diálogo inter-religioso e intercultural, necessário para assegurar a paz e a boa convivência entre os diferentes grupos, é contrariado por uma praxis agressiva que se dá em nome da ideologia e da religião. Actualmente, a religião mais perseguida é a cristã com um número de vítimas superior a 105.000 em 2012, segundo regista o “Observatório da Liberdade Religiosa”. A grande maioria das vítimas regista-se nos países islâmicos e comunistas. Um outro aspecto muito dificultador do diálogo intercultural é o facto de os grupos islâmicos imigrados se isolarem e exigirem para os seus grupos direitos que não reconhecem aos outros nos seus países. Isso é sentido por muitos cidadãos europeus como uma atitude não transparente numa tática de conquista suave. A Noruega já proibiu a Arábia Saudita de financiar mesquitas enquanto não permitirem a construção de igrejas no seu país. O ministro dos negócios estrangeiros norueguês Jonas Gahr Stor defende a reciprocidade de relações entre países e culturas e já anunciou que a “Noruega levará este assunto ao Conselho da Europa”.

 

Cada cultura nasceu duma religiosidade que se expressa num conteúdo de fé à volta do qual construiu a correspondente identidade. Assim se foram formando identidades contra identidades: umas mais guerreiras, outras mais pacíficas. Sob a capa da luta religiosa escondem-se tendências hegemónicas que em nome da religiosidade afirmam constructos de poder dominadores da pessoa e doutros grupos. O islão é hoje, com o sistema político chinês, o sistema com mais potencialidades de expansão e “conquista”, porque não permitem a formação de consciências complementares.

 

Experiência acrescida

O escritor Martin Walser, ao falar de religião, diz: “Religião é uma maneira de expressão como literatura, pintura, música…, fé é uma capacidade, um talento”. Religião é também uma experiência humana enriquecedora que fomenta a vida interior e alarga o horizonte humano ao procurar o desconhecido. A experiência da fé é pura e única, acontece para lá dos credos, das imagens, dos dogmas, dos mitos e das culturas. Estas deveriam preparar o caminho para a vivência do inefável na vivência da paz universal. O brilho não vem da capacidade lógica mas do talento da fé (vivência) amorosa, ao contrário dos poderes que se aproveitam daquela ânsia genuína humana.

 

Só temos uma terra com muitos sistemas ecológicos naturais/culturais e com grande diversidade. A diferença é uma constante num mundo feito de retalhos complementares. Se se pretende a paz verdadeira, a afirmação da identidade pela diferença não pode deixar de reconhecer o seu caracter subsidiário em relação ao todo.

 

Iniciativa histórica

Uma iniciativa histórica em prol do diálogo inter-religioso foi a criação da “Jornada Mundial de Oração pela Paz” em 1986 (em Assis, Itália), por iniciativa do papa João Paulo II, onde cristãos, judeus, budistas, muçulmanos e representantes de religiões africanas e americanas se reuniram para rezar pela paz mundial. Joao Paulo II queria iniciar assim uma “viagem fraterna” dos diferentes caminhos das religiões na procura da Verdade. Isto pressupõe o diálogo inter-religioso como caminho das religiões no sentido de afirmar a dignidade do Homem e da natureza, onde todos se empenham em minorar as causas do sofrimento de pessoas e grupos e onde verdades coexistem de modo a possibilitar a probabilidade que leva ao desenvolvimento.

 

Para se falar dum diálogo inter-religioso que honre o seu nome teria de se pressupor que cada um dos parceiros reconhecesse a liberdade religiosa e respeitasse a decisão individual. O Vaticano II reconheceu esse direito mas as elites do islão não o reconhecem, tropeando assim qualquer forma de diálogo. Aposta no querer ter razão, substituindo assim a experiência interior (fé) por um sonho intelectual, por uma estratégia de dividir para dominar. Os muçulmanos que vivem no ocidente, talvez, num dia distante, provoquem uma espécie de concílio islâmico que o torne compatível com outras culturas.

 

Direitos humanos em conflito com direitos culturais

Na sociedade ocidental domina o primado do direito (direitos do Homem) e da democracia enquanto nas sociedades de influência árabe domina o primado da religião e do grupo. Enquanto o Ocidente educa o cidadão para o respeito dos direitos individuais, as elites muçulmanas empenham-se na afirmação dos seus valores culturais religiosos à custa dos direitos pessoais; partem também duma posição dogmática que não reconhece à sociedade permissiva o direito de exigir contrapartidas na práxis. Muitas vezes, lutam pela imposição e reconhecimento legal dos seus costumes (direitos culturais contra direitos individuais) sem se preocuparem com o espírito base das leis dos países de acolhimento. O próprio direito europeu e direitos nacionais europeus já têm sofrido retrocesso chegando a consignar valores culturais como superiores ao valor da pessoa humana: prática da circuncisão (RFA), imposição das leis da sharia em questões de divórcio (Inglaterra), imposição de ementas próprias em instituições públicas, isenção de aulas de biologia e de ginástica para mulheres, etc.

 

Uma minoria hermeticamente fechada e uma maioria indiferente

É notória a falta de cooperação entre os grupos minoritários e o grupo maioritário. Praticamente este só cede, sem contrapartidas. Da parte da sociedade acolhedora (cristã) observa-se uma atitude que vai da tolerância à indiferença. A parte maometana permanece dogmática. Quem se julga na posse da verdade não está disposto a procura-la. Não há disponibilidade enquanto dominar a doutrina declarada dum Islão autossuficiente, hegemónico, totalizante e intolerante. As comunidades maometanas encontram-se demasiadamente preocupadas na sua afirmação como grupo para poderem reconhecer os outros bem como a diversidade de necessidades individuais dos próprios membros. Não comportam lugar para a diferença. Por isso os países muçulmanos oprimem e discriminam quem não professar a sua fé porque consideram a opinião diferente como um atentado a uma ideologia que quer tudo igual. Talvez vejam na religião muçulmana o potencial de poder a contrapor ao imperialismo económico. Respondem a um imperialismo com outro imperialismo; um abusa dos cidadãos (democracia), o outro abusa da crença.

 

Cada cultura faz a sua interpretação do mundo, do homem e da sociedade com diferentes metáforas. Cada religião tem a sua maneira de equacionar e enroupar o misterioso transcendente. Este não pode ser exclusivo dum biótopo religioso nem duma experiência cultural antropológica ou sociológica. Cada pessoa, cada biótopo natural/religioso tem algo de diferente que o vizinho não tem. Para se reconhecer a diferença é necessário depor-se as armas do combate e da conquista para se permitir o crescimento espiritual no próprio biótopo religioso.

 

No reino da ecologia os biótopos, as realidades/verdades encontram-se, umas ao lado das outras, sem a necessidade de se negarem. Também deveria ser lógico e natural que num ‘biótopo’ cultural muçulmano fosse possível a coexistência, sem perseguição nem discriminação de outras religiões e vice-versa. Também deveria ser natural que cada religião se sentisse, intra muros, como a melhor sem necessidade de negar as outras.

 

A não existência de acordos bilaterais suborna a cultura ocidental

Na Europa, a discussão intercultural e inter-religiosa é orientada apenas para o folclore religioso cristão, judeu, hindu e muçulmano sem que se expresse algo das suas filosofias, antropologias, sociologias e teologias. Assistimos a abordagens superficiais em curto-circuito ou com afirmações e negações reducionistas à medida do politicamente correcto. Os governos e a sociedade laica não estão interessados numa discussão pública objectiva porque, a fazê-lo, o seu actuar seria questionado pelos interesses democráticos da sociedade acolhedora. Nos conflitos específicos maometanos com a sociedade maioritária, o politicamente correcto está interessado em reconhecer neles apenas questões de religiosidade individual. Reina o interesse, o medo. Também a Igreja não pode falar claro porque se o fizesse logo os cristãos que vivem em estados muçulmanos seriam objecto de maior discriminação e perseguição.

 

Por várias razões, o Estado laico não se tem preocupado com o diálogo intercultural internacional nem em estabelecer acordos bilaterais a nível de direitos de religião. Com o tempo, devido à presença massiva muçulmana, os estados europeus ver-se-ão na necessidade de reconhecer valor ao diálogo inter-religioso, tendo de o colocar na agenda das convenções internacionais.

 

A sociedade civil, ao não exigir bilateralidade na concessão de direitos religiosos, está a subornar a cultura ocidental e a contribuir para um futuro muito problemático. Enquanto o mundo cristão se empenha em propagar a tolerância possibilitando o exercício livre do islão e a construção de mesquitas na Europa, os estados muçulmanos como a Arábia Saudita, a Turquia e os países muçulmanos em geral, proíbem a construção de igrejas, sinagogas e escolas nos seus países, e, por outro lado, financiam a promoção do islão e a construção de mesquitas no estrangeiro. A tolerância religiosa ocidental é por vezes interpretada pelos que se aproveitam dela como sinal de fraqueza e como reconhecimento da superioridade do islão. Não compreendem que um grupo com convicção de verdade religiosa possa aceitar o outro.Em termos de poder e de estratégia, a atitude hegemónica muçulmana tem-se revelado como óptima para a sua ofensiva. Os estados europeus, ao considerarem a religião subjacente à própria cultura como coisa privada, e ao reconhecerem, por outro lado, o islão, como expressão religiosa, política e social desestabilizam o Estado laico e ao mesmo tempo reduzem a posição da maioria cultural e cristã ocidental ao nível duma minoria.

 

Aquela tolerância que parecia haver na Europa entre crentes, agnósticos e ateus tornar-se-á cada vez mais frágil atendendo à afirmação dum islão rígido, resistente à integração, que tende a qualificar e legitimar os cidadãos na categoria de crentes e de ímpios. Na Post-democracia a sociedade dá indícios de querer orientar-se já não por princípios de democracia partidária mas, paulatinamente, possibilitar a representação do poder estatal por grupos étnico-religiosos. A sociedade cede assim a sua concepção duma sociedade construída na base de valores e direitos humanos (filosofia cristã) a uma sociedade construída na base de valores e direitos não individuais mas culturais (filosofia islâmica).

 

Caminho difícil

O diálogo com o islão torna-se muito complicado porque este se definiu e define sobretudo na demarcação em relação ao judaísmo e ao cristianismo. Uma hipótese de diálogo estaria no caracter ambivalente (confuso) em que suras (versículos) do Corão se contradizem. A sua ambiguidade poderia possibilitar uma interpretação que acentue as suras do Corão benévolas em relação ao judaísmo e ao cristianismo. De facto, no Corão há as suras provenientes da primeira fase (Meca) em que Maomé era benévolo em relação ao cristianismo e ao judaísmo e as suras posteriores (de Medina) que são aguerridas contra o Cristianismo e o judaísmo. Nas mesquitas, os imames orientam-se por estas últimas. Por outro lado o islão só reconhece os crentes de Alá, não conhecendo a ideia do amor ao próximo como no caso do cristianismo e do judaísmo. Também por isso nunca se ouve uma autoridade islâmica criticar publicamente os terroristas islâmicos. Dado a ambivalência facilitar também a arbitrariedade, seria porém fácil demostrar aos fundamentalistas islâmicos que o seu fundamentalismo é relativizado pelo mesmo Corão, doutro modo teriam de aceitar que Deus muda de ideia na passagem da fase do Corão em que Maomé vivia em Meca para a outra fase em que passou a viver em Medina.

 

O diálogo entre islão e cristianismo é difícil de tratar, atendendo às diferentes abordagens e perspectivas com que pode ser exposto e aos interesses a elas implícitas e às diferentes sociologias e antropologias subjacentes a cada cultura. Um outro factor dificultador do diálogo vem da estratégia humana de argumentação, uma argumentação para ter razão, e que para defender uma posição como verdadeira tende a declarar a outra como falsa. Este extremismo tem sido acentuado especialmente a partir do iluminismo sob o manto do espírito crítico e cientista.

 

A discussão hodierna entre judeus, cristãos e muçulmanos procura partir dos pontos que os une. O Vaticano II afirma mesmo que os muçulmanos acreditam no mesmo Deus que judeus e cristãos. Isto embora entre as concepções de Deus haja diferenças enormes.

 

Uma exegese islâmica, que desse prioridade às suras do Corão da sua primeira fase, em que Alá era benigno, possibilitaria um diálogo autêntico.

 

O diálogo entre cristãos e judeus torna-se mais fácil. As diferenças não provocam conflitos na convivência social, dado a súmula do Antigo e do Novo Testamento se resumirem na mesma premissa “Ama a Deus e ao próximo como a ti mesmo”. No Cristianismo, como no judaísmo, o caminho de Deus passa pelo próximo e o próximo é o outro, o diferente. O caminho do Homem passa por Deus no próximo e no mundo. Na prática o resumo da Bíblia é “não faças aos outros o que não queres que te façam a ti”. Deus é o mesmo, o resto tradição.

 

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

antoniocunhajusto@gmail.com

www.antonio-justo.eu