Encerramento do Vice-Consulado de Frankfurt e do Posto de Osnabrueck – Um Escândalo


Os gastos com os nossos ricos das Embaixadas e dos Ministérios são tabus

António Justo

O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal determinou encerrar o Vice-Consulado de Frankfurt, e o Posto de Osnabrueck, já no próximo mês de Dezembro. O Posto de Frankfurt, tem uma vasta área geográfica que abrange três Estados federados da Alemanha.

Há dois anos o Consulado-Geral de Frankfurt foi reduzido a Vice-consulado para se possibilitar o Posto de Osnabrueck.

O argumento agora apresentado para extinguir o Posto de Frankfurt é a poupança. Também a poupança requer ser feita com inteligência e eficiência, ou segue-se o princípio de extinguir os locais onde se espera menos resistência política.

Deparamos com uma poupança atabalhoada que não contempla um programa racional de poupança eficaz nem pondera a possibilidade dum serviço à comunidade com menos custos. Delibera-se, autoritariamente, sem um plano eficiente de poupança racional a efectuar e sem uma estratégia como atingir os objectivos da poupança determinada mantendo o máximo de serviço à comunidade com a verba reduzida.

Facto é que não pode despedir o pessoal e a sua transferência vai criar grandes dificuldades às comunidades de portuguesas por ele servidas. Em Frankfurt, tal como noutras representações diplomáticas, poder-se-ia diminuir drasticamente os pesados encargos com aluguer de instalações e talvez com outras poupanças a nível interno de maneira a os funcionários continuarem a manter o serviço aos utentes. Podiam manter-se locais de serviço fazendo funcionários deslocar-se a outros postos carentes de pessoal… Frankfurt é uma zona rica e o centro das finanças da EU. Enquanto outros países procuram manter o contacto com este centro europeu, Portugal despede-se dele.

Porque não se diminuem as repartições onde moram os ricos começando pelas embaixadas e serviços altos do Estado? Almeida Garrett constatava já: “E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infância, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?” Portugal poupa mal e nos lugares falsos.

Portugal paga 60.000€ mensais pelo aluguer do alojamento em Berlim

Portugal pretende manter o Brilho da Embaixada à custa de Serviços consulares. Embora possuindo um terreno em Berlim, o Estado português paga 29.894,93 euros de aluguer pelas instalações da Embaixada e 12.782,30 euros pela residência do Embaixador, num total mensal de 42.677,23 euros, como referia já o Portugal Post em 2008. Agora com a repartição de turismo a conta subiu, pelo que consta, para a 60.000 € mensais. Não se refira já os gastos com mensalidades a dignitários da Embaixada com ordenados mastodônticos e carros ao serviço, cujo trabalho poderia ser garantido com despesas módicas. De consciência embaçada, vivem bem nos seus guetos discretos e imperceptíveis à comunidade e à sociedade alemã, gastando o dinheiro que a Nação não tem.

Portugal para ser humano e moderno terá de racionalizar os gastos com a sua vaidade, com os que vivem para lá da barreira do povo e não apenas com os que trabalham directamente com ele. O povo já é demasiado pobre. A crise não se resolverá porque o problema está em manter os nossos ricos da sociedade e do Estado.

Se em tempos de guerra não se limpam armas, porque se não reduzem também os consulados de Hamburgo, Düsseldorf e Estugarda a vice-consulados? Mantinham-se os serviços sem nenhum prejuízo para a produtividade. Com o dinheiro poupado nestes cargos honoríficos improdutivos tapar-se-iam buracos sem abrir outros. Se um vice-cônsul é um trabalhador um Cônsul é um senhor! Estes justificam-se só a nível excepcional. O único critério da sua sustentabilidade deveria ser o que conseguem, em cifras, obter para Portugal.

Também não se conhece nada do que terão feito os cônsules de Estugarda, de Dusseldorf e de Hamburgo, o que, a seguir a mesma lógica, também estes deveriam ser reduzidos a vice-consulados, destinando-se as centenas de milhares de euros anualmente poupados na promoção das actividades associativas e cívicas em torno do consulado ou para os fins da poupança.

Fazer dos Consulados e das Embaixadas Casas da Porta Aberta de Portugal

Uma política de reestruturação consular e das embaixadas (destas ninguém fala!…) terá que assentar em dados científicos e numa política prospectiva que tenha em conta uma acção programática portuguesa a curto prazo para os próximos 10 – 20 anos. Os vice-consulados terão de se tornar em Centros da Porta Aberta, em Casas de Portugal onde se realizam as mais diferentes actividades.

Os funcionários dos postos deveriam ter competência para estabelecerem ligações comerciais e industriais com empresas alemãs de modo a cativar investimento para Portugal. Para isso o Estado português teria de saber o que quer, não se podendo limitar a medidas cosméticas, reagindo a interesses parciais instalados.

A economia e a cultura serão os determinantes do futuro. As Casas de Portugal terão de se tornar biótopos, viveiros de toda a vida das regiões onde se encontram os portugueses. Portugal não se torna caro com os funcionários que servem directamente o povo; Portugal é pobre pelos custos que tem com uma alta burocracia parasitária improdutiva.

Não chega criar “condições para responder às solicitações” dos utentes; é preciso antecipar-se a elas e aos instalados no sistema. Precisa-se dum novo perfil de pessoal das embaixadas e de postos consulares (verdadeiras Casas de Portugal). Apesar da “revolução” as embaixadas resistiram aos ventos da mudança.

Uma democracia, se de facto o é, deverá pedir contas aos seus representantes. Os Embaixadores, os conselheiros de embaixada, os cônsules, vice-cônsules, deveriam tornar público um plano bienal que mostre o programa a realizar concretamente por eles. Naturalmente que de dois em dois anos deveria ser apresentado um relatório do que fizeram ou deixaram de fazer e porquê. Assim a comunidade adulta poderia controlar o que os seus “servidores” fazem e intervir no sentido de se promover Portugal em vez de viver à custa dele. A comunidade civil tem o direito de saber o que os seus mais altos funcionários fazem. A um professor, que ganha um quarto ou até menos dum quinto do que muitos destes senhores recebem, exigem-se relatórios irracionais e àqueles deixa-se andar à vontade com relatórios internos feitos para contentar a administração e sem um mínimo de controlo de eficácia.

Como poderá Portugal permitir que pessoas ocupem cargos administrativos improdutivos e recebam do erário público mais de dois mil contos por mês sem apresentarem contas do que fazem à comunidade civil? É pena que a grande maioria suje a veste de alguns poucos. Isto escandaliza e torna ridículas as medidas que o MNE toma.

A reestruturação dos consulados terá de ser mais radical a nível de concepção, de estratégias, de perfil do pessoal e de excussão. Antes porém deveria começar-se pelas Embaixadas, verdadeiros absorvedores dos dinheiros públicos. Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros, não se deixe atemorizar pelos boys da sua casa grande. Não actuar é beneficiar a praga dos gafanhotos. Eles comem tudo e não deixam nada.

Todos estamos dispostos a contribuir para restabelecer a honra enxovalhada da nação. Queremos porém que os que nos conduziram a esta situação não sejam indulgenciados como continuam a ser.

(Envio este texto também ao Senhor Primeiro ministro e ao senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros.)

António da Cunha Duarte Justo

(Conselheiro Consultivo do Vice-Consulado de Frankfurt)

antoniocunhajusto@googlemail.com

PAPA EM VISITA DE ESTADO À ALEMANHA ACOMPANHADA DE APLAUSO E CRÍTICA

O ressentimento e o ódio descem à rua acompanhados de deputados

António Justo

A convite do presidente da Alemanha, Christian Wulff, Bento XVI visita pela primeira vez oficialmente a Alemanha, de 22 a 26 de Setembro, na qualidade de chefe de Estado do Vaticano. Uma Visita Papal ao País de Lutero não é empresa fácil.

Parte dos Deputados do partido comunista “Die Linke” e alguns outros vão estar ausentes à sessão parlamentar onde o Papa fala (22 de Setembro). Alguns pretendem juntar-se a manifestações paralelas contra o Papa nas ruas de Berlim. Aí juntar-se-ão grupos defensores do aborto, o grupo “divertimento de pagãos em vez do medo do inferno”, um comício de homossexuais e de lésbicas, o movimento “nós somos igreja”. Levanta-se o absolutismo da opinião da rua contra posições dogmáticas da Igreja.

Grave é o facto de Deputados não compreenderam que são representantes do povo e que também têm católicos como seus eleitores. Deputados não se representam a si mesmos. Cada vez assistimos mais a uma sociedade em pé de guerra. A sociedade divide-se em lutas de trincheira. Antigamente as maiorias determinavam a norma. Hoje, minorias organizadas querem ditar o dizer. Exigem tolerância para si mas não toleram as ideias dos outros. Contra o cristianismo levantam a voz porque sabem que não têm nada a recear. Perante o islão acobardam-se e vergam a espinha. O Dalai Lama também é contra o aborto mas para a estratégia dos anticatólicos isso não interessa registar.

A informação da comunicação social, em questões de Papa, parece congregar os arautos da guerra escura contra o catolicismo. Por vezes tem-se a impressão de não estarem interessados em narrar, mas apenas em cuspir. A nomenclatura da polémica e da demagogia aproveita para fomentar uma imagem do Papa como inimigo perigoso do progresso e das opiniões de estatística. Assiste-se a uma lavagem ao cérebro.

Um Papa que pretende um momento de reflexão conservadora num progressismo absolutista é tido como desmancha-prazeres. Tem uma posição crítica perante um progresso de bárbaros à medida do que se deu com a queda do império romano e consequente destruição de tudo o que era cultura até o século IX. As crises que hoje atravessamos e não dominamos dão-lhe em parte razão.

Ele não serve os poderosos, é um espinho nos olhos de muitos que se encontram em posições-chave da sociedade (economia, política, ciência e religião).

O Papa não obriga ninguém a aceitar as suas ideias. Provoca porque acredita em Deus; provoca por estar à frente duma instituição que defende as crianças por nascer (outros defendem as rãs e ainda bem); por acreditar na ordem natural da criação; por ser contra as guerras do Ocidente; por defender igualdade, solidariedade; por condenar um sistema capitalista financeiro e social que de crise em crise destrói um mínimo de solidariedade social entre pobre e rico; por condenar um estilo de vida que conduz à ruina da pessoa e da nossa civilização; provoca por ter uma convicção que desagrada a  uma nomenclatura que só quer opinião. É contestado por comunistas e capitalistas.

“ Deus está morto, não há razão para vociferar tribulação” anuncia Siegel.online. Como resposta, também irracional, poder-se-ia dizer: Hitler tentou construir uma ordem estatal e social sem Deus e Estaline também…

Os filósofos Adorno e Horkheimer falam duma filosofia do “Iluminismo” que difunde ” com sinais do mal triunfante”.

A propaganda dum paganismo politeísta pretende desligar o Homem de todas as incorporações. Quer uma religião civil com o deus dinheiro e o consumo como liturgia. A felicidade não se pode reduzir a gozo a curto prazo; a masturbação satisfaz o momento mas não cria futuro. Os resultados do ateísmo podem ver-se no nazismo e no estalinismo. Os resultados de dois mil anos de cristianismo são magros. Temos que nos unir, todos crentes, ateus e pagãos, amigos e adversários, para juntos nos tornarmos melhores e assim possibilitar um mundo melhor. O que temos feito é prolongar a guerra querendo ter sempre razão.

O papa vê na razão uma expressão de Deus e Deus como a súmula do ser e do sentido. Num mundo que cada vez desrespeita mais a pessoa, vê Deus como garante de individualidade e dignidade humana. Num mundo do ateísmo ele defende Deus. Com a morte do Deus da Bíblia desaparece a base duma existência civilizada.

Quem critica o Papa tão ferozmente não o conhece nem leu os seus livros. Alimenta-se do preconceito, não é honesto. Desconhece que no cristianismo, ao lado dos dogmas, o cristão tem uma consciência soberana. Não chega catar algumas afirmações do Papa discutíveis e reduzi-lo a elas para apanhar pessoas incautas para o seu rebanho.

Deparamo-nos muitas vezes com um jornalismo de campanha. Dirigido ao ânimo das pessoas e não à razão. Assiste-se à adulteração da informação. A propósito da visita do papa a Madrid com mais de um milhão de visitantes, as notícias falam primeira e detalhadamente dum grupo de 5.000 demonstrantes e doutro grupo de 150. Concede-se nas páginas dos jornais espaços extensos a críticos, espaços que não se concedem aos conteúdos transmitidos pelo Papa. Assiste-se a uma afectação anti-romana em que se fazem afirmações de “católicos escuros”. Jacobinos de várias facções coordenam as suas acções contra o catolicismo.

Uma igreja com comunidades em todas as nações precisa dum cargo da unidade. Os Papas apesar das sombras e pecados na História serviram a unidade da fé e a ideia duma comunidade global em que o irmão e o próximo vivem em paz. Como Papa não é um funcionário duma organização, a ele obriga-o só a Bíblia e o serviço à humanidade. A Igreja é uma comunidade peregrina sempre em processo e em mudança precisando naturalmente também ela de mudança.

A religião é mais feminidade, como a razão é mais masculina. A igreja é mulher, é mãe. A sua padroeira é Maria. Uma sociedade extremamente masculina, que impôs os padrões da masculinidade à mulher, critica uma Igreja em que a feminidade é guardada a nível de fé. Nos ataques jacobinos sistemáticos e organizados a nível mundial contra a Igreja parece querer branquear-se uma sociedade extremamente injusta para poderes escuros poderem agir à vontade, sem ninguém que lhes fale à consciência. A Igreja, como cada pessoa e cada instituição é pecadora. Se cada um olhasse para os próprios defeitos talvez compreendesse melhor os outros.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

Razões da Situação Precária de Portugal


O Narcisismo do meu País

António Justo

Portugal tem uma população muito trabalhadora mas economicamente ineficiente. O maior problema da sociedade portuguesa está no facto de ter uma classe média acomodada e presunçosa com falta de espírito empreendedor, geralmente colada ao Estado e a burocracias ineficientes.


Em nome do progresso, o povo foi submetido a um ritmo de mudança tal que perdeu a visão geral dos problemas, entrando num processo desorientação e numa despersonalização que se expressa no exagerado consumo de antidepressivos em relação a outros países. Encontramo-nos perante um país com um Estado cobaia sempre a importar novos conceitos mas sem tempo para os digerir nem para desenvolver conceitos próprios com base na própria experiência (isto pude constatá-lo durante 30 anos nas formações anuais do Ministério da Educação – uma semana por ano). A vida dura leva-o a sonhar: ir ao shoping, ver futebol não restando tempo para ler.


Enquanto países como a Alemanha se preocupam em receber imigrantes qualificados para as suas empresas, Portugal fomenta a emigração duma juventude sem lugar para ela na sociedade.


Como emigrantes, os portugueses, são bons camaradas e ao mesmo tempo amigos do pratão. Enquanto os portugueses no estrangeiro aforram, na terra gastam mais do que produzem. Os não emigrados, julgando que os “emigrantes” ganham o dinheiro sem suor, vêem-nos de resvés. A inveja não suporta outros de cara lavada.


A assimetria no desenvolvimento de maiorias e minorias fomenta a inveja. Uma política partidária narcisista tem acentuado o problema.


Enquanto na França há 1,99 crianças por mulher, na médias dos 27 países da EU 1,58, Portugal consegue, com 1,32 por mulher, ser na Europa, o país que menos filhos gera. Portugal ainda os poucos filhos que tem obriga-os a emigrar, não criando espaço económico para eles. Sangra-se. Paulo Morgado denuncia, com objectividade, Portugal com um Estado colosso como um polvo que tudo abafa não permitindo concorrência na vida económica e cultural portuguesa. “O mercado português ainda se move mais pela parte relacional do que pela competência”. Isto podemos constatá-lo desde a administração pública às Câmaras Municipais, onde há chefes de si mesmos (sem um mínimo de pessoal a administrar) com projectos artificiais (para colocar amigos).


O Estado não se tem preocupado com política familiar, castigando quem tem filhos; não se tem preocupado com o fomento de empresas pequenas e médias, aquelas que poderiam criar emprego e produção portuguesa. Cada um, onde está faz por si. Na arena pública da nação são constantes os discursos políticos; a discussão económica tem sido pouco séria, muitas vezes apresentada sob uma perspectiva de autodefesa ou de culpabilização dos outros. As empresas e o discurso cultural encontram pouco espaço na discussão pública.


A classe política, na sua incompetência da gestão pública, desqualificou-se ao deixar chegar o país à beira da insolvência.


A via para sair da crise será “o saber de experiência feito”

“Porque é sono o não saber”, constatava já Fernando pessoa.

As instituições não têm assumido responsabilidades. Os problemas políticos, sociais e económicos, são em geral discutidos nos Media sob uma perspectiva político-partidária, o mesmo se dando no parlamento. Nota-se falta de competência económica, no discurso nacional. Muito discurso é meramente teórico sem experiência adquirida nas empresas e nos laboratórios das universidades. Muitos dos assessores têm apenas um curso universitário e o cartão do partido. Perdemos o ideal que pautava os arquitectos dos nossos descobrimentos: “o saber de experiência feito”.


Seria esclarecedor da situação se se fizesse um estudo sobre a proveniência profissional dos deputados com acento no parlamento: quantos são empresários, quantos provenientes do serviço público, quantos ecónomos, engenheiros, juristas, pedagogos, médicos, etc. Assim se saberia os modelos de pensamento que dominam o parlamento. Daí se poderia concluir da sua competência económica e social. O jogo de xadrez do poder político cada vez descarrega mais figuras políticas na liderança de grandes empresas de relevo nacional. A objectividade cede a interesses encostados às burocracias. Um tal sistema fomenta um espírito providencialista e parasita. Um bom tema de doutoramento seria uma investigação séria sobre as grandes empresas nacionais e o número de quadros vindos da política.


Já chega de “português para inglês ver“. Em Portugal  Tudo fomenta um narcisismo latente na administração e na sociedade. O sistema fomenta a ascensão de pessoas narcisistas como se pôde verificar no currículo de Sócrates. Exagerado senso de auto-estima sob o substrato duma realidade deprimente. Ciumentos estão sempre prontos a dar a culpa aos outros e com dificuldades de relações pessoais autênticas concentram-se, por isso na sua carreira: os fins justificam os meios. Geralmente, pessoas que se encontram à frente do pelotão não sentem empatia pelos outros. Em vez da empatia têm um sentimento de grandiosidade sem limites. Querem admiração sem crítica, não se importando, a nível prático, com a exploração dos outros. O que conta é dinheiro, poder e prestígio. No mercado das opiniões, sentem-se vítimas colocando os outros no lugar do transgressor.


Vive-se uma vida ad hoc. Quem não produz mais que consome age contra a natureza! Já David Hume constatava que “não é a razão que nos orienta na vida mas o hábito”. Daí a necessidade de vozes da consciência nacional que chamem a atenção do perigo da inércia, o perigo dum hábito irreflectido em que tem vivido toda a nação: uns da cópia e os outros da imitação. Por isso a primeira exigência que se coloca a um cidadão formado é ser um cidadão céptico mas consciente de que a crítica esconde a desilusão. Não se pode continuar a viver segundo o lema: já que não se tem o que se quer, aceita-se o que se não quer. Na sociedade portuguesa por onde quer que nos movimentemos tropeçamos no narcisismo. As ondas do narcisismo que emanamos são tão perigosas como as ondas de radioactividade atómica.


A primeira república portuguesa rendeu-se ao estrangeiro, a actual também. O futuro está nas nossas mãos de cidadãos! Portugal ou acorda agora ou quando acordar já não é Portugal.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com



A Idade Média árabe é incompatível com revoluções


Oriente contra Ocidente

António Justo

As revoluções estão, historicamente, condenadas ao fracasso ou a serem ultrapassadas. A religião permanece. Por isso revolucionários secularistas/marxistas unem-se agora ao islamismo na sua luta contra o capitalismo e contra o Ocidente. A melhor maneira de prolongar o sistema comunista é torná-lo religioso. Por isso muita gente da esquerda se vira para Meca.

Muitos niilistas verificando que Deus não morreu procuram servir-se agora de Alá. O problema não está tanto no facto das esquerdas se tornarem devotas; o problema está na Nato que de intervenção em intervenção está sempre condenada a ser derrotada pelo islão, continuando, mesmo assim, a servi-lo. O grande equívoco ocidental está no facto de preparar o caminho no Norte de África para os seus mais figadais inimigos: o fundamentalismo islâmico. Mas mais problemático que isto é o fomento dum imperialismo nascente antieuropeu e anticristão que implicará o atraso da Europa e da África. Que a América intervenha de ânimo leve com o cheiro no petróleo não é de admirar, que a Europa o faça só demonstra a contradição e a decadência ideológica em que vive.

A primavera árabe passou e a revolução não começou nem começará. Deixou oposições na oposição e a oportunidade para o extremismo religioso se fortificar.

O Norte de África encontra-se na Idade Média por isso só possibilita rebeliões, não revoluções. Além disso a pressão exterior (Nato) não permite a formação de forças críticas dentro do Islão tal como aconteceu com o Irão do Xá, com o Iraque de Saddam Hussein e como acontece com a Líbia de Kadhafi. As intervenções do ocidente têm impedido, nos países muçulmanos, a formação de forças laicas, que embora tirânicas, fomentariam um desenvolvimento social diferenciado. A sede do petróleo e a prepotência política ocidental age, a longo prazo contra os próprios interesses e contra os seus ideais de democracia e de direitos humanos. Com o seu comportamento obriga os muçulmanos a manterem-se todos apenas no tapete duma religião indiferenciada base dum império já não só de carácter pessoal mas também territorial.

Em muitos dos média europeus celebravam-se euforicamente os acontecimentos no Norte de África como se tratasse duma revolução semelhante à que provocou a queda do muro de Berlim. Esqueceram-se da revolução de Khomeini. A lógica da queda do Bloco de Leste não se pode transpor para o mundo árabe. Enquanto o bloco comunista era mantido pela ideologia o árabe é mantido pela religião. Enquanto o primeiro é uma miragem (fruto de projecções) o segundo é uma paisagem real (com base nos sentidos). A liberdade aspirada não é a mesma. Aquela era contra a religião e esta acontece dentro da religião; esta não produz revolução mas apenas rebeldias e terrorismo.

A revolução do Leste encontrava-se na sequência dum crescimento surgido dentro da própria cultura: a revolução industrial e a revolução francesa (séc. XVIII e XIX) acompanhadas por reminiscências de cristianismo. O fenómeno do norte de África é um levantamento medieval e o sistema medieval não produz revoluções, apenas gera rebeliões. Aqui assiste-se a uma revolta contra a opressão, contra a heteronomia e contra o feudalismo. Se desejarmos uma revolução, no meio da sociedade muçulmana, semelhante à revolução europeia do século XIX, o caminho será investir na produção industrial local, na formação (o analfabetismo não produz revoluções) e na emancipação do Corão (geografia desértica). Este deu origem a uma sociedade monolítica e extremamente monoteísta que não permite uma comunidade destino de cumplicidade entre Deus e Homem. Só conhece o dentro (oásis), a totalidade do espaço sacral, e o fora que reconhece como deserto perigoso sem vida nem direito a ela.

Direitos humanos, dignidade humana são o resultado dum processo social e histórico catalisado nas zonas de influência judaico/cristã. Formam uma supra-estrutura desenraizada, uma produção intelectual duma forma de vida que tinha como suporte a religião. Por isso, a luta em curso contra o cristianismo (simbolizado no Catolicismo ou noutras confissões), por muitos defeitos que este tenha, é uma luta contra si mesmo, um combate autodestrutivo preparador da decadência da cultura ocidental. A grande hipótese do islamismo vem-lhe da queda do muro da vergonha. O comunismo ideológico vê no islão o companheiro (Islão e Comunismo são extremamente “monoteístas”, só reconhece povo mas não pessoas). Actualmente o Islão alia-se aos multiplicadores marxistas e aos niilistas europeus na luta contra o Cristianismo. Isto numa fase de transição até que não precise deles para se impor. O que está em curso no norte de África é um processo para imposição do islão radical tal como aconteceu no Irão. Aqui os comunistas iranianos uniram-se ao extremismo religioso de Khomeini contra o “capitalismo”. Agora a esquerda desiludida aposta no caos virando-se para o Islão. Mas o islão não permite o secularismo no seu seio.

Muitos intelectuais europeus de esquerda e secularistas, com a sua aversão ao catolicismo e a sua simpatia para com o islamismo, fomentam o imperialismo islâmico e a autodestruição da europa. O niilismo só ajuda os inimigos do Ocidente. O modelo cristão do “dai a César o que é de César…” fomenta a coexistência do religioso e do secular, um ao lado do outro sem prepotências. O mesmo não comporta o islão.

A cultura ocidental tem uma grande missão no mundo e precisa de teístas e de ateístas reconciliados para a tarefa humanista a realizar; doutro modo correrem o risco de servirem novas aspirações hegemónicas. A coexistência do sagrado e do profano (próximo) são essenciais para a sustentabilidade da civilização cristã, e correspondentes subculturas. O processo de emancipação do Homem não se pode processar na luta secular contra a religião nem na luta da religião contra o secular. Trata-se de promover correntes seculares e religiosas e de abdicar da estratégia de afirmação pela contradição, para se optar pela convivência numa relação do não só… mas também… O Homem é um animal religioso e político que precisa de ar (espírito) para respirar e de solo onde pôr os pés, mas sem se deixar amarrar por um nem pelo outro. A verdade é complementar não se deixando reduzir à mera oposição entre conteúdo e contentor. A negação dum implica a negação do outro, não deixando lugar para a afirmação.

Muitos vêm no terrorismo um sinal de fraqueza daquela cultura. Esta visão pode induzir em erro. Em termos de cultura muçulmana, ele sempre fez parte dela em tempos de crise, actuando tanto para o interior da sociedade islâmica (como elemento moderador de tendências extremas a nível de poder terreno e religioso) como para com o exterior, defendendo-a.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com


Nações ajoelhadas


Numa altura em que são sistematicamente destruídos os nossos biótopos culturais não se respeitando países nem identidades culturais; numa época em que elites obtusas pisam a nossa vida negando-nos o direito de erguer os olhos, não deixemos que a terra nos alague nas lágrimas da emoção que “Ó minha pátria, tão bela e perdida” (1) testemunha. Emoção sim, mas que iluminada pela razão dê lugar à revolução. Amigos, “eles comem tudo e não deixam nada” como cantava outrora o Zeca Afonso. Hoje até a flor mais bela do nosso jardim comem: a nossa esperança. Já não se contentam em tirar-nos a terra como o ar espiritual da nossa respiração, não dificultando uma vida digna. Primeiro levaram-nos a honra de pessoa deixando-nos solitários como indivíduos à disposição do seu mercado; agora violam a honra das nossas nações. Lembremos com Emmanuel Levinas: “ Aquele que levou a sua tarefa até ao anoitecer – aquele que acreditou num mundo melhor, na eficácia do bem, apesar do cepticismo dos homens e apesar das lições da História, aquele que não se desesperou. Aquele que não procurou nem distracção, nem suicídio, que não fugiu da tensão na qual vive como responsável, o único que merece, talvez mais adequadamente, o nome de revolucionário” .

António Justo em “Pegadas do Tempo”

(1)    http://www.youtube.com/embed/G_gmtO6JnRs