Talibanização do Paquistão

Ministro humanista assassinado

António Justo

O Ocidente anda distraído com o Afeganistão e com o Norte de África. Não se dá conta que um dos maiores problemas do futuro será o Paquistão, dado possuir a Bomba Atómica e o islamismo extremista se afirmar cada vez mais na população e nas instituições do Estado. No momento em que a classe militar se deixar infiltrar pelo extremismo islamita e logo que este conquiste o poder, será iminente a guerra entre culturas.

No Paquistão foi ontem assassinado o Ministro para as Minorias Religiosas, Shahbaz Bhatti, pelo facto de ser cristão e de defender direitos humanos que pretendia ver assegurados pelo Estado e pela Religião.

O islamismo apodera-se cada vez mais duma sociedade sem defesas contra extremismos. O Paquistão é propício à promoção de alfobres de terrorismo a ser exportado.

O Ministro assassinado era contra a lei da blasfémia que penaliza a ofensa religiosa. Ao abrigo desta lei e da profanação do Corão eram condenadas pessoas a prisão perpétua e mesmo à morte sem o mínimo de defesa. Esta lei permite a qualquer pessoa que tem um inimigo poder acusá-lo de profanação do Corão, mesmo sem prova objectiva.

O Ministro assassinado tinha intercedido a favor da cristã Asia Bibi, condenada, arbitrariamente, à morte por blasfémia. Um representante islâmico anunciou um prémio grande em dinheiro para quem assassine Asia Bibi. Muitos muçulmanos, no Paquistão, usam da estratégia de violar jovens cristãs porque, deste modo, estas serão socialmente desprezadas e discriminadas.

Os paquistaneses moderados, cada vez se encontram mais intimidados pelas forças extremistas islâmicas.

Em vez de manifestações a favor do Ministro, houve manifestações populares de dezenas de milhares de manifestantes a favor do assassino. Uma religião que gosta de usar, nos lábios, a palavra paz, é utilizada para espalhar o fascismo no mundo, na promoção da sua paz de cemitério.

O Ocidente mais uma vez saberá passar por cima do mal e conseguirá rotulá-lo de bem! Uma sociedade, uma religião, uma cultura que despreze o Homem e a humanidade legaliza, nela mesma  o barbarismo, chame-se ele económico, religioso ou cultural. Pior ainda quando atentados contra a humanidade possam ser legitimados pela ordem religiosa.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

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Povo Alemão dá bom Exemplo ao obrigar o seu Ministro a demitir-se


ZU GUTTENBERG TEM A “POUCA SORTE” DE NÃO VIVER MAIS A SUL

António Justo

O Ministro alemão da defesa zu Guttenberg demitiu-se do cargo de ministro e anunciou renunciar a todos os mandados políticos que tinha, em consequência de se ter descoberto que ele, quando fez a sua promoção de doutoramento, copiou passagens sem citar as fontes. Apesar do ministro ser continuamente bombardeado pelos Media e pela oposição, continuava a ser o político estrela do povo alemão.

A consciência da nação não o podia suportar mais no poder. Vê-se que a democracia neste caso funcionou, embora com atraso. Embora o ministro se agarrasse ao lugar, o Estado teve força suficiente para o não deixar abusar do poder e levou-o a demitir-se. A Alemanha ainda parece acreditar que os políticos não devem mentir.

O atraso na demissão explica-se pelo facto de zu Guttenberg transmitir na sua apresentação uma figura moderna de político activo e resoluto que podia brilhar em público. Isto era bom para a coligação governamental CDU/CSU/FDP mas mau para a oposição, SPD, Verdes e Die Linke, que de momento não têm pessoa equivalente que leve o povo atrás dela.

Zu Guttenberg granjeou a sua popularidade, junto do povo e dos militares, logo, ao assumir a pasta de ministro da defesa, empregando o termo de “ guerra no Afeganistão”,  não aceitando a designação eufemística de” intervenção militar”, como a política prezava até então em dizer. Também se opôs ao subsídio pelo Estado a empresas na falência, ao contrário de sua chefe Merkel.

As elites da nação não podiam aceitar a mentira no seu meio (apesar da hipocrisia que nestes meios possa reinar!). O ministro caiu porque também os doutores viam o grau de Doutor vulgarizado e também, pelo facto da honra da universidade ser posta em causa. 61.000 Cientistas tinham assinado uma carta enviada à chanceler alemã afirmando que a Alemanha não pode manter zu Guttenberg no governo porque nesse caso sofreria “a Alemanha como lugar da ciência e sofreria a credibilidade da Alemanha como país das ideias”.

Estava em causa a imagem da Alemanha, do governo, do exército, do partido e da ciência. Um exemplo estimulante! O caso também revel que, ao lado de muitas mazelas que esta sociedade possa ter, neste país, os políticos não são os donos nem chega a retórica para se justificarem.

Pior que o plágio do ministro alemão terá sido o processo de aquisição da licenciatura de PM português Sócrates.

Também desta vez foi a Internet quem denunciou o caso do plagiato no doutoramento. Uma sociedade cada vez mais atenta!

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

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PRÓXIMO DESAFIO: OS REFUGIADOS


Não há Vítimas! Somos todos Criminosos!

António Justo

Na Idade Média, a Europa construía as muralhas em torno das suas cidades para se defender dos povos bárbaros invasores. Hoje fecha as suas fronteiras para impedir os fugitivos da pobreza e da perseguição. Se então os bárbaros brutalizavam a cultura e as populações por onde passavam, o mesmo não se dá com os novos “bárbaros”. A Europa actual só defende o seu bem-estar. Em vez de fomentar uma nova política para criar perspectivas nos países pobres da emigração, queixa-se da iminente invasão.

A Europa constrói muralhas para impedir que os pobres se sentem à sua mesa; e os pobres árabes que vêm constroem as suas muralhas culturais tornando-se impermeáveis aos outros. Cada um olha o próximo do mirante do seu orgulho. Muralha contra muralha. Lutadores dum lado e lutadores do outro. Tudo berra e reclama mas sem razão. Cada um se afirma contra o outro, cada um a seu nível, ou com palavras, ou com armas, ou com a opinião. São muros cerrados, feitos de culpa e de razão; tudo a lutar na mesma construção.

Os refugiados políticos e económicos não atacam por atacar; apenas fogem à perseguição de regimes barbáricos por nós apoiados. Uma vez cá precisam também eles dos seus guetos cerrados com minaretes bem altos para, para lá do muro, saciarem o longe da saudade.

Os melhores braços necessários para o enriquecimento do país saem sem possibilidade de trabalho para passarem a viver da assistência social.

Que política caricata! Em breve virão pedir asilo os apoiantes de Kadhafi. E nós, humanitários, iremos receber os perseguidores dos movimentos de libertação. Exploradores da exploração e exploradores da população, de mãos dadas, entre embargo e desembargo, na injustiça se dão!

Isto mostra a complexidade da política de asilo e revela a necessidade duma nova política de apoio aos pobres e aos perseguidos nos seus países. Uma política de fomento às bases contra toda a exploração.

Doutro modo, continuaremos a política hipócrita ajudando, política e economicamente, os exploradores para podermos explorar mais à vontade.

O ano passado, apesar do controlo das fronteiras líbias por Kadhafi, o fluxo de refugiados continuou e morreram 500 pessoas afogadas ao tentar atravessar o Mediterrâneo. A Líbia é usada como país de trânsito por perseguidos na Eritreia e no Sudão e também por fugitivos da pobreza e da opressão. O ano passado a Itália acolheu 6.000 refugiados, a Alemanha 41.000 e a Suécia 30.000.

Peritos apresentam o crescimento da população africana como o factor principal do empobrecimento.

A União Europeia treme perante o surto de analfabetos (só o Egipto tem cerca de 30% de analfabetos) e pobres que por isso saem duma pobreza para entrar noutra (pobres da assistência social). O ministro alemão das finanças, Schäuble, já deu a ideia de se criar uma cooperação de migração circular em que fugitivos sejam acolhidos por cerca de três a quatro anos, lhes seja ensinada uma profissão e depois voltem ao país para o fomentarem.

Enquanto continuamos a apoiar ditadores, centenas de milhares fugirão à fome e à opressão (exemplo do Sudão). O problema maior é que só foge quem pode, quem pode arrecadar alguns milhares de Dólares para entregar às organizações transportadoras. De facto, fugitivos pagam milhares de dólares a bandos organizados que lhes possibilitam a saída para a Europa.

Na Europa deparam com uma sociedade, momentaneamente refractária pelo facto dos pobres de cá se verem em concorrência com os de lá.

A Europa, apesar das suas contradições, terá que continuar a funcionar como lugar da misericórdia e da solidariedade, terá que entrar em colaboração económica com os países pobres, com a promoção de projectos económico e parcerias e com Fundações que fomentem a cultura popular e democrática a partir das bases. Precisa-se de solidariedade especialmente com o povo e não apenas com as instituições.

Naturalmente, não pode ser negado que a experiência europeia com migrantes de cultura árabe tem sido má; Nos últimos 60 anos de estadia não se conseguiu a integração. O problema é quase insolúvel porque são dois sistemas culturais por enquanto incompatíveis. Se os ocidentais aspiram à hegemonia económica os árabes e turcos aspiram à hegemonia cultural. No meio desta realidade a xenofobia crescerá. Aqui não há vítimas, somos todos criminosos.

Uma nova política de refugiados terá que saber combinar razão e misericórdia. Também tem ser claro que fomentar democracia significa tornar as fronteiras mais abertas.

Necessita-se duma política humanitária e de solidariedade com base em critérios humanos cristãos. Buscamos as riquezas do petróleo e as preciosidades do solo, mas, em contrapartida, deveríamos deixar algo visível para o povo, sempre que os políticos o não façam: construção de escolas, pontes, pequenas empresas, iniciativas populares de ajudá-los a ajudar-se, organização de mesas redondas.… Uma política que reserva a um sector a exploração e ao outro o benfazejo é perversa. Uma economia humana e democrática terá que dizer a e b ao mesmo tempo, não se reservando para si a exploração do homem pelo homem deixando a caridade ao Estado, às igrejas e outras instituições filantrópicas. Se colocarmos democracia e direitos humanos no centro da política e da economia surgirá automaticamente uma nova ordem, sensível à questão da culpa e da justiça. A desculpa de que ditadores são suportados pelo povo transfere a ética para uma situação abstracta e anti-humana. Num futuro de consciência mais desenvolvida, as empresas económicas terão de criar centros de formação escolar e profissional e outros apoios sociais e culturais ao povo, nas zonas onde se radicam e actuam. Esta seria a melhor política de fomento. Doutro modo continuará a política a não querer saber o que a economia e as finanças causam.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

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